sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Domingo é dia de Partidos...

Em fim de semana de eleições, vêm-me à memória, com satisfação, as alegres campanhas de rua que, normalmente fugindo à imprensa e aos encontros com políticos de profissão, percorriam os recantos de toda a Ilha, palmilhando-a à Canada e ao Outeiro, juntando, à sua volta, descontraída caravana que, sem grandes preocupações em convencer o povo do que quer que fosse, rapidamente se deixava convencer pela beleza do mundo rural e pela grandeza desse Povo profundo. Talvez por isso, por essa empatia à primeira vista, vá-se lá saber como, na hora da verdade, os votos caíam naquela sigla como nunca tinham caído antes, nem alguma vez voltariam a cair.
Não sei se hoje as pernas se readaptariam àquela romagem anual de trinta dias em caminhada de sol a sol, com tradicional paragem nas mais puras adegas que salpicam a Ilha da cor da felicidade de quem partilha o melhor vinho que lhe enche a adega...
Mas, essa parte hoje já só é memória.
Outra há porém, o dia dos votos, cuja solução de nem lá ir ainda não me convenceu de ser a melhor. Apesar de tudo há sempre um mal menor!
Domingo é dia de votos e ando aqui às voltas com esse aborrecimento de só poder votar uma vez.
Queria dar um voto ao CDS. Nem que seja por tradição: a maior parte das vezes votei nele e tendo um bom candidato pelos Açores, o Professor Universitário Félix Rodrigues, não há razões para não lhe dar o meu voto, além de que não gosto de o ver atrás dos comunas e dos bloquistas.
Queria dar um voto ao PPV. O Portugal Pró Vida é um novo Partido que tem como objectivo a defesa dos valores em que eu acredito: a Vida e a Família. Segue a Doutrina Social da Igreja e é um movimento cívico sem pretensões de poder, tendo-se constituído a partir dos movimentos de defesa da vida humana.
Queria dar um voto ao MEP. O Movimento Esperança Portugal é também um novo Partido, estreado na Europeias, e vem trazer um discurso pela positiva à política. O resultado das Europeias permitia a eleição de um deputado ao Parlamento. É gente de princípios e com muita garra em defesa do bem comum.
Queria dar um voto ao PPM. É muito liberal para meu gosto e gasta o seu tempo a destruir a causa monárquica em guerras desnecessárias contra o Senhor D. Duarte. Mas tem história e tem carisma. E gente extraordinária que vive a nossa História e os nossos valores tradicionais, como o bom amigo Gonçalo da Câmara Pereira. E o candidato dos Açores, Paulo Estevão, também daria um óptimo Deputado no Parlamento.
E talvez até desse também um voto ao PNR. É verdade que tem umas tropas repletas de cavaleiros do asfalto, forrados de tatuagens e com o cabelo curto de mais para o frio que faz em Lisboa. Mas o líder, Pinto Coelho, diz aquilo que toda a gente tem medo de dizer, é o único que não presta vassalagem ao 25 de Abril e está próximo de ser eleito deputado por Lisboa, o que seria uma pedrada no charco esquerdoso que domina a Nação. E para combater essa virulenta esquerda só mesmo com as tropas que tem à volta!
E, claro, o PSD. Então a nossa Manuela conseguiu trazer o PSD mais para a Direita e não merece a recompensa do nosso voto? Se ela perde, já está à espreita o tal Passos Coelho, um socialista do está na moda, como a maior parte dos oportunistas da política, sem quaisquer convicções profundas conhecidas.
O problema é que Domingo só tenho um voto! Pouca sorte.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Tempo de ensaios...

Aqui fica o endereço para o Coro 12 do Messias de Haendel:

http://www.youtube.com/watch?v=rfQddqu3G7M&feature=fvw

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

"Um mero assento"

Um artigo de BENTO SAMPAIO:
Deveras baralhado com o insólito, apercebi-me que o desgraçado, de mãos atadas, cansado da caminhada, estava rodeado de outra gentalha.
“Tenho sede, tenho fome e tenho medo dos dias e dos vales…”, isso me pareceu ouvir da boca de um homem, alquebrado, sem fala que se lhe ouvisse, sentado numa pedra.
Abeirei-me da criatura, e um semblante sofredor, escorrendo suor farto, dizia bem da sua penosa jornada, de rumo incerto, “quem sois?”, nada me disse, apenas arfava, “claro, estais estafado, bom homem…”, e a resposta do pobretana foi a de menear simplesmente a cabeça – pudera, estava enfraquecido e despojado de si.
Descansava ali numa pedra, depauperado, já se vê, num mero assento que me pareceu ser o contrapeso de um lagar desmantelado. Talvez de alguém que deixara vinha, terra, casa, tudo que tinha, para ir em cata de fortuna fácil nas Américas, pensei.
Mas, ao menos, não teria aquilo que abandonara, um pequeno valor, qualquer coisa que desse para comprar uma pequena casa, para início de vida?
Pois claro, então a terra, pouca que fosse, empoleirada na rocha, a vinha descuidada de anos, o lagar uma boa peça para o museu, nada disso se aproveitaria?
Logo apareceu um outro homem, explicando-me que de nada lhe servia o que os seus de sangue lhe deixaram, “não, meu caro senhor, estou desiludido…”, e eu ainda tentei demovê-lo, “e os filhos, veja lá o que faz…”, mas ele, determinado, “vou seguir esse homem”, e juntou-se a outros, “e nós também”, secundaram.
Deveras baralhado com o insólito, apercebi-me que o desgraçado, de mãos atadas, cansado da caminhada, estava rodeado de outra gentalha, esfaimada de ódio, de sangue, e clamavam vingança, “mas de quê, santo Deus?”, interroguei-me perplexo, que a arraia não arredava pé do seu troféu, “crucifica-o!”, gritavam para um opulento guardião da ordem, “crucifica-o!”, e dali não desarmavam.
Já se percebeu que a minha Vila, diria, lembrou a via crucis, pois que não é caso para se dizer que festejou a afligida andada do Senhor Bom Jesus da Pedra a caminho do Calvário.
Ainda há um mês, na Ponta Garça, O vira no regaço de Sua extremosa Mãe, expondo-se morto aos fiéis viventes, esses derriçados em depravadas cabanas de divertimento, numa louca orgia de berreiro – que pena me fez.
E eu que me gabava das gentes da minha terra, paciência…
Oh, se me lembra de ver passar, à nossa porta, magotes de gente, meia-tarde, atravessando os Tufos, vindos da Ribeira Quente, para assistir à impressionante Mudança, sem aparato, apenas o andor carregando a Imagem do Condenado – só a “Fanfarra Lealdade” e a “União Progressista” suplicavam, em sons cavos, o amparo a todos nós.
E aquele rancho de almas, gente feliz com lágrimas, saudava-nos alegremente, “vamos para o Fogo do Senhor da Pedra!”, e eu perguntava a meu pai, deveras espantado, “que fogo?!” – ai, tão diferente era o amor à terra.
Hoje, o Fogo é outro, majestoso, admirável, de encher os olhos de deslumbramento, é verdade; mas passeamo-nos rapidamente, encurtando caminho, abrindo a direito, derrubando o viço – e para quê tamanhas esteiras de betão – numa ânsia de tudo se ver por fora, sem o mínimo empenho de se mirar por dentro a alma de outra gente que urdiu o belo em obras consagradas, e lá se foi de nossas vistas o campo, a flor e a madrugada.
É óbvio que não faço a apologia do céu brilhado para gáudio de poetas, ou a quimera de Improvisos e Nocturnos, em noites cálidas do imenso estrelado, nada disso.
Agora, com o Verão a ir-se para outras bandas, talvez fosse de bom-tom acalmar os ânimos exaltados, sentamo-nos num mero assento de pedra, e retomar as veredas de algum discernimento, acautelando a beleza dos Tufos, na minha Ponta Garça e a orla costeira ainda intacta, tudo o que o Criador – pronto, Esse ou Alguém por Ele – nos legou.
E agora o meu reparo: não repitam, noutras voltas da nossa Costa, outros atentados como o do Pesqueiro, o da Calheta de Pedro de Teive e de outras enseadas, para que vingasse o delírio de se ter uma Litoral à maneira…
Pois alevá… os banhos de ruralidade puseram-me assim. Coisas minhas, só isso.