segunda-feira, 28 de março de 2011

A Quaresma Micaelene

As cinzas que nos foram impostas simbolizam o dever da conversão, a mudança de vida, recordando a passageira, transitória e efémera fragilidade da vida humana, sujeita à morte. "Lembra-te ó homem que és pó e que em pó te hás-de tornar", como celestialmente as crianças enchem a Igreja com o canto feito para elas.
Assim se inicia a Quaresma, quarenta dias antes da Páscoa, pois que os Domingos não são nela incluídos.
Pelas ruas, as romarias estão por toda a Ilha, timbrando, em toadas de Ave-Marias, adros e vielas. De cajado na mão, aí vão, percorrendo a Ilha do Arcanjo. Como sempre. Desde o tremendo terramoto de 1522, que nos levou a velha Capital e milhares das suas vidas. Para que tragédia assim não nos assole semelhante. Em cada fim-de-semana uns saem, outros regressam.
Os que ficam também oram. Porque de oração se faz a Quaresma. A mais Solene de todas é o Lausperene. Louvor eterno. É tradição bem antiga, nestas nossas Ilhas, a Exposição Solene do Santíssimo Sacramento no mais alto lugar do templo, no trono da Capela-Mor, o qual ficava tapado, com damasco, no resto do ano, só se abrindo nesta Festa, ornamentando-se a preceito a Igreja, com as aromáticas flores próprias da época e as luzes cintilantes de lamparinas e velas fervorosamente a arder.
Na cidade de Lisboa, o Santíssimo Sacramento está exposto à adoração dos fiéis desde 1556, por instituição do seu arcebispo, D. Luís de Sousa, ininterruptamente, percorrendo, por escala, as diversas igrejas da cidade, por quarenta e oito horas.
O Lausperene, originariamente com a duração de quarenta horas, em memória do período que o corpo de Jesus esperou no túmulo pela vitória sobre a morte, na nossa tradição cingia-se a uma noite, ou, em alguns casos, às vinte e quatro horas do dia.
Mesmo assim, foi o piedoso costume caindo em desuso. Felizmente, hoje, começa a recuperar-se, percebendo-se o brilho e a solenidade a que deve estar associada a Exposição do Santíssimo Sacramento.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Casa na Rua de Sant'Anna

Está à venda, na Rua de Sant'Anna, a velha Casa que foi de Cícero de Medeiros e, até há poucos anos, da Família Medeiros Andrade. Bonita Casa, entretanto totalmente restaurada, com 8 quartos, com estacionamento em frente, em Rua de Procissão da Senhora Sant'Anna.
Por 250.000,00€ na vizinha Remax. Recomenda-se aos amigos. http://www.remax.pt/120961002-848

quarta-feira, 16 de março de 2011

Ao Cónego José Garcia

Requiem æternam dona eis, Domine,
Et lux perpetua luceat eis
Riquiescant in pace.
Amen.

Que a sua alma descanse em paz, no seio da Eternidade que tão solenemente anunciou ao mundo, em 57 anos de dedicado sacerdócio.
Ao grande mestre da liturgia desta diocese, maior entre aqueles a quem foi dado o dom de compreender a extraordinária beleza e riqueza da ars celebrandis, dessa profunda reverência que é devida pelo homem perante Deus sacrificado no altar.
Nascido a 11 de Agosto de 1928 no Salão, na Ilha do Faial, foi ordenado presbítero a 8 de Dezembro de 1954 na igreja de Nª. Sª. da Conceição de Angra do Heroísmo. Exerceu o seu ministério em 16 Paróquias desta Diocese, tendo sido marcante a sua passagem pela Sé Catedral. Foi aí um mestre prático da Liturgia, marcante para a geração dos que, como eu, alunos do Seminário, tinham na Catedral de então uma presença viva da Igreja Católica, bem mais rica e espiritual que as novas experimentações que faziam as modas... Riqueza que a nossa Sé mantém e cultiva, não fosse o seu actual Pároco e Vigário Geral da Diocese nado e criado nos territórios da Catedral e seu paroquiano.
O Cónego José Garcia fez parte de uma geração de padres que muito deram à Igreja com dedicado zelo e carinho. Era um verdadeiro padre do seu tempo. Dedicava-se e amava a Igreja. Se às vezes não escondia tristeza com o estado a que os novos tempos tinham conduzido as coisas de Deus, também mostrava sempre a sua alegria pelo mais pequeno pormenor que viesse ao serviço da Santa Madre.
Homem de cultura superior, nestes últimos anos em que serviu a nossa cidade, mostrava um carinho muito grande pelo seu precioso Coral de São José. Os dois anos em que tive o gosto e a honra de dirigir o Coro, no Natal e na Semana Santa, foram uma experiência extraordinária pelos pequenos gestos de bondade e ensinamento deste grande Homem.
Lembro-me da primeira Missa em que cantámos, em que o nosso Gonçalo, com 6 anos, como não podia deixar de ser, acompanhou-nos acolitando com o seu traje de Menino do Coro. Foi com os olhos molhados que o velho senhor se dirigiu num repente a casa, no final da Missa, para vir trazer uma caixinha de chocolates, manifestando com aquele gesto simples o seu apreço e agradecimento pela postura da criança, lembrando-lhe os seus próprios tempos de menino...
Uma outra vez ensaiávamos no grandioso Coro Alto o belíssimo Te Deum de Perosi para o final do ano. Qual não foi o meu espanto ao ver àquela hora da noite entrar o Reverendo Pároco embevecido pela música que conseguira escutar em casa, pedindo-me se o autorizava a cantar com o Coro naquele ensaio: "Senhor Maestro, nós cantavamos isto no Seminário. Eu era tenor. Dá-me licença que vá para os tenores? Ouvi ao longe e não consegui não vir aqui..."
Penso que dificilmente um maestro ou um Coro conseguem ter melhor elogio de um Pároco.
Falecido ontem, 15 de Março de 2011, é hoje enterrado no cemitério de São Joaquim, havendo solenes exéquias às 14.00 na sua última menina dos olhos - a opulenta Igreja de São José.

segunda-feira, 14 de março de 2011

sexta-feira, 4 de março de 2011

O XII Baile de Carnaval das Casas do Frias

Ao som de Strauss se abrem, à Meia-Noite, os velhos bailes de Carnaval. Daqueles que se propagavam nas velhas casas da cidade, antes que a aurora do século XX invadisse a tradição com o omnipresente toque do colectivo.
Melhor novidade trouxe ao Carnaval a complexidade das composições da nossa velha Terra de Vera Cruz, em que músicas cheias de ritmo, com alegres acordes, ainda que muitas vezes peculiarmente menores, dão vida a letras de vidas sofridas, em um dia no ano teoricamente aliviadas...
Mesmo assim, quão mais belo é o nosso Entrudo, ainda que ao som de samba, por não servir de fuga à vida, mas de sua parte feliz.
Ora também nas Casas do Frias, pelo 12º ano consecutivo, com traje de Gala ou Fantasia, é o Baile iniciado à Meia-Noite, antecedido de Ceia com as iguarias próprias, logo após o peculiar Teatro-Bailinho, que, com a prestimosa ajuda das crianças, traz, em rima, à boca de cena, as verdades do ano de alguns convidados mais incautos, até que em Coro encerre:

“Nesta festa sem idade:
Carnaval são só três dias.
Com estas cores na Cidade,
Só na Rua do Frias.”