"Correspondendo
ao honroso convite de aqui rabiscar umas linhas, em jeito de contributo ao
futuro, começarei por uma singela historieta.
Dois grandes
Amigos. Um fora nosso carismático e peculiar Professor do Seminário-Colégio. O
outro, aí nosso bom colega, em tempo de infância. A história passa-se muitos
anos depois. O Professor era agora Vigário de pitoresca freguesia e o colega
seu dedicado colaborador nos trabalhos paroquiais. Quis doença ligeira que o
dito Pároco se tivesse que ausentar em dia de Domingo, delegando no seu velho
aluno, embora leigo, uma celebração da palavra, com breve homilia. Rapaz estudioso,
correu-lhe bem a palestra. Mereceu
rasgados elogios do povo. Puro e são, regressado o Pastor, deu-lhe conta da
missão, incluindo o facto de o povo ter ficado encantado, o que, conhecendo o sempre
imprevisível Mestre, já seria de suspeitar que não lhe iria cair bem no goto.
Ora, assim foi. Chegando-se o Domingo seguinte, sem previamente avisar, sem o
desgraçado se ter agora preparado, à hora do sermão, não esteve com meias
medidas: “Eh pá, já que gostaram tanto de fulano no Domingo passado, ele hoje é
que vai então aqui falar!” E sentou-se a ouvir o improviso, sentenciando do
remanso do seu cadeirão: “Eh pá, ó fulano, brilha agora!”
Pois este
Domingo veio-me a história à memória, após ver subir ao palco as várias mais ou
menos direitas regionais. O que irão resolver para o nosso governo, não sei.
Sei apenas que nada ficará como está. Para os Açores e para elas próprias, cada
uma das mais ou menos.
Nunca nos Açores
o eleitorado deu tantos deputados às várias mais ou menos direitas, sem chamar
agora o PPD a esta equação, como é fácil perceber (embora o facto da sua
candidatura ser a solo também o tenha beneficiado e ao conjunto maior do espaço
não socialista). Mas voltemos às mais ou menos direitas. Em número de oito os
eleitos deputados. Estratégia correctíssima, como sempre defendi: vários
mercados, vários públicos, várias propostas. Mas eis que, sem que algumas tivessem
até tempo de se preparar, nós os eleitores mais ou menos às direitas, depois de
tanto as ouvirmos elogiarem-se, demos uma, para elas, inesperada oportunidade.
Como já cá não fazíamos há 24 anos.
E agora a
Direita subiu ao palco. Falar foi mais fácil. Difícil é fazer melhor. Embora
possível e desejável. Se é “todos com o PSD”, como manda a lógica natural das
coisas; se é “basta alguns com o PS” (neste caso o CDS e os seus mais próximos
– sem a extrema esquerda, obviamente), por afinal às direitas haver alguma,
mais ou menos, que, não sendo de utilidade prática, roa a corda à primeira
solução; se é “ir vendo e ir andando”, caso a caso; isso lá elas escolherão. Elas
é que estão em palco. E nós teremos memória da postura de cada uma. Diga-se,
tal como em 1996, em todas as soluções o CDS é força determinante. E seja qual
for a solução, que o seja tranquila, corrigindo-se a parte menos boa desse
tempo, entre governo ao chão – governo ao ar.
Por isso, mais
ou menos Direitas, a vossa hora chegou. Como diria o saudoso Mestre, que Deus
tenha: “Eh pá, ó Direita, brilha agora!”
Casas do Frias -
Ponta Delgada, 26 de Outubro de 2020
Paulo Domingos
Alves de Albergaria Botelho de Gusmão
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