Artigo publicado nos Jornais
Diário dos Açores
Correio dos Açores
Açoriano Oriental
(em dia da tomada de posse do novo Governo)
"Escrito o
desafio: “Brilha, Agora Direita!”, em dia de I Oitava Eleitoral, sem elogios,
nem regozijos apressados, eis que, tendo já a mais ou menos Direita (uns mais,
outros menos) subido em palco, é tempo de dar parecer ao I Acto: a entrada em
cena. Tempo de gratidão, pois que se era bem mais fácil a direita dispersa
semear em vários terrenos, mais difícil era este consenso, pondo cada um de
lado a legítima ambição de ficar apenas para si próprio o trigo recolhido. Conhecendo
os vários actores em causa como os conheço, os seus diferentes percursos e as
suas próprias visões do que significa este lado do espaço político, há aqui um
gesto de profunda boa vontade que, como açoreano, interessado na causa pública,
só tenho a agradecer.
Manda a isenção
de quem está de fora que se reconheça que essa entrada teve algumas hesitações
e variações, mas tal, parece-me, só confirma a consciência do acto por parte de
todos. Elenquemos pois os responsáveis, a quem aqui fica esta palavra de
reconhecimento.
Em primeiro
lugar, ao Partido Socialista. Na hora da sua saída de palco, é tempo de
agradecer. Com sinceridade. Duas décadas e meia de paz social, de progresso e
de obra, a que entenderam possível, apreciando mais uma ou menos outra, a
verdade é que a política não pode ser só aspereza e bota-abaixo. O Presidente
Vasco Cordeiro e o Presidente Carlos César representam e representarão, com
todos os que os acompanharam, uma parte importante da nossa história
autonómica, tal como a todos é devida essa gratidão ao primeiro desta nossa
história, o Presidente Mota Amaral, e aos fazedores desta Autonomia em outras
quase duas décadas.
Mas, claro, aos
novos actores, corajosamente unidos. Juntos completam-se numa direita mais plural.
No entanto, juntos, sabem também que anulam parte das suas próprias
identidades.
Ao Presidente
Bolieiro, a cuja qualidade de homem de consensos muito se deve o crescimento do
PPD/PSD. Ao Presidente do meu velho CDS, Dr. Artur Lima, cujo belíssimo
resultado nas Ilhas Terceira e São Jorge permitiu retirar o Partido do
fatalismo de quem lhe deseja mal. Ao meu correligionário monárquico, Dr. Paulo
Estevão, que, estendendo a sua dinâmica à Região, com excelentes resultados no
Grupo Ocidental, eleva o PPM à sua dignidade original de membro fundador e
imprescindível da AD. Ao meu sempre “camarada”, Dr. Nuno Barata, lutador aguerrido, que, sabendo dar o toque
açoreano à sua Liberal Iniciativa, venceu e viveu, livre e em Paz, o primeiro
desafio eleitoral. E acrescento aqui os do nosso lado que não venceram, mas
lutaram, pelo que não devem ser esquecidos, nem aqui nem neste congregar de
vontades que o novo tempo reclama: aos que levaram até ao fim o projecto do ALIANÇA,
o meu bem haja pela persistência e pela dedicação à causa pública. E,
finalmente, sem complexos nem parolos politicamente correctos, aqui vai o meu
abraço aos Amigos do CHEGA, os quais, com essa legítima opção, sabem que se
atiraram às balas, sem medos nem receios do que pensam deles os que por vezes
nem sequer pensam por si.
Bem, mas a
terminar, em jeito de Post Scriptum,
já que a mim ficará mal usar a sigla PS, um
merecido reparo, já que nem tudo são rosas. Ou melhor, nem tudo será culpa “dos
rosas”. Então começamos um tempo novo com vícios dos velhos?
Declaração de
interesses e amizade: fui convidado por três dos seis partidos à direita do PS
para encabeçar a lista por São Miguel. Fui convidado por um dos três partidos
da Coligação (não necessariamente coincidentes com os anteriores) para assumir
uma Secretaria. Que me perdoem o facto de, com pena, nesta fase da vida
dedicada à família e à chegada dos meus ao escritório, não ter aceite nenhum
destes honrosos convites. Porém, com toda a estima, isso não me inibe de
defender a direita no que nós somos genuinamente. Perfeitos? Longe disso.
Defeitos? Muitos. Sovinas, forretas, entre muitas outras coisas piores. Mas
relaxados e despesistas é que nunca fomos. Por isso, a terminar a minha
gratidão, não posso calar o meu desânimo: então chega a direita (mais ou menos)
ao poder para fazer um Governo maior que o do PS? 13 figurantes (indiscutivelmente
bons, não nego)? A desculpa é porque se trata de uma coligação? Então se é
isso, devolvam já o poder ao PS que me sai mais barato. Vamos ser sérios. Onde
está o meu CDS-Partido Popular que me levou a voz e a juventude em prol da
contenção? O nosso PPM com o exemplo dos últimos Reis que de tudo abicavam em
prol da Nação? E os fiscais do jogo? Iniciativa Liberal? Mais Estado?
Brincamos? Chega!? Menos tachos? Vão deixar passar este Governo imenso? A faca
e o queijo que têm na mão é só para afrontar comunistas decaídos e pobres sem
rendimento ou é para cortar a direito?
Nós, a Direita
de sempre, temos orgulho na vossa capacidade de entendimento, mas nunca
compreenderemos o vosso papel se afinal tudo isto acabar assim. Ser Liberal
será apenas dar uma mão às causas fracturantes da esquerda, pois que para a
parcimónia da gestão pública afinal não contam? E gritar Chega será apenas questionar
o nosso respeitado povo cigano, por quem nós, os verdadeiramente conservadores,
pelo seu apego à causa da Tradição (legitimamente a sua), temos a mais profunda
admiração, pois que, afinal, para reduzir tachos muito falaram mas,
desculpem-me a franqueza, para nada serviram?
Enfim, profundos
parabéns e sentido reconhecimento pela capacidade de consenso, no entanto,
amanhem-se o projecto de Governo e os seus aliados: ou sobe ao palco este
Governo mais magro do que o anterior, ou termina já o brilho dos que em vão
invocaram o nome da direita!
Errar é humano e
reconhecer o erro é o mais nobre dos gestos.
E, claro, tarde,
mas ainda vão a tempo de emendar o exagero.
Passo, pois, a
palavra ao Parlamento. Com a devida e saudosa vénia.
Já não
conseguem? Quem vamos despedir? Peçam ao menos desculpa. Foi um erro! Emendem
ao menos nos Directores Regionais: metade dos anteriores. E as Secretarias para
reduzir até ao fim do mandato para ao menos chegarem ao número com que começou
o Presidente Carlos César quando dependia do nosso CDS. Claro, se não tiverem
arte, nem coragem, para cortar já a direito… como eu, eterno ingénuo e
sonhador, esperava."
Casas do Frias, 23 de Novembro de 2020
Paulo Domingos Alves de Albergaria Botelho de Gusmão
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