domingo, 9 de janeiro de 2022

Entrevista de Natal ao Jornal "A Crença"



Com a devida vénia ao centenário Jornal e ao seu Ilustre Director, 
Pe. Doutor José Paulo Machado.

Natal é?

O Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, Solene Entrada de Deus na História, início da nossa Civilização Cristã e premissa da nossa própria Redenção, Bem primeiro do ser humano que não se fique pela vã glória dos dias. E todos os adornos, sejam “os da Verdade ou os da Fantasia”, só provam a grandeza da data. Depois cada um escolhe entre a Festividade à Mesa do Aniversário ou apenas os arredores das variedades dos saltimbancos e trapezistas que também fazem parte e adornam sempre uma Festa Real.

Uma tradição familiar?

Na Igreja, à Missa do Galo. Imprescindível. Em Casa, ao Madeiro, com os presépios, os cantares ao Menino e a porta aberta aos Amigos.

Natal passado em que parte da Ilha?

Neste edílico sul micaelense: entre Vila Franca e Ponta Delgada, sempre com um toque na natalícia Lagoa de Santa Cruz.

Bacalhau, peru ou polvo?

Bacalhau na Noite, símbolo da abstinência dos antigos. Os demais surgem de quando em vez. Oficial mesmo é a carne de vinha d’alhos, ao Madeiro.

Doce de Natal favorito?

Bolo de mel.

Quem ocupa o primeiro lugar lá em casa?

Primeiro o altarinho com o Menino, depois o Presépio grande, replicado à exaustão das divisões, e, finalmente, junto à mesa da ceia, a árvore, símbolo da vida, submetida ao nascimento do seu Criador.

Presépio à moda antiga ou simples?

À antiga, claro.

Melhor presente recebido no Natal?

O melhor de sempre? A minha Amada. Conheci-a “na Noite”. Na Noite Santa de Natal. À Missa do Galo da Matriz do Arcanjo.

Deste ano? Uma caixa de excelente vinho, entregue por um Padre Amigo, sempre muito reconhecido. Pela proveniência e pelo gesto.

A mais inusitada? Entre muita apreciada tralha do meu cunhado Edgardo, um penico de latão para o quarto episcopal do Paço de Mouronho…

Uma memória inolvidável do Natal?

Tantas. O remoto Natal em que o vizinho Artur Viera quis emprestar, a este petiz e a sua irmã, uma grande caixa de tarecos da sua mercearia, a aumentar o Presépio da velha Cozinha da Vila.  O primeiro Natal em que me foi confiado o presépio da Casa da Lagoa. Tinha seis anos. Estava tão entusiasmado com a missão que comecei logo após os Santos. Meu pai convenceu-me que em Outubro era cedo de mais…  As academias do Seminário-Colégio. A Família que já partiu. Os Natais antigos que só vivi por tradição oral. Os Coros com que já tive a alegria de viver essa bucólica Noite… Tantas.

Canção de Natal predilecta?

Adeste Fideles, chamado o “Hino Português”, sem esquecer o nosso “Pela Estrada da Judeia”, da Escola do Padre Serrão, se não do próprio, a que podemos chamar, no Natal, “O Hino Vila-franquense”.

Uma palavra para definir 2021?

Excelente. Como todos os demais. Nada é perfeito nesta vida. Dentro da imperfeição, mesmo entre noticiadas tristes doenças e mortes, felizmente de ninguém conhecido, aproveitou-se para aperfeiçoar algumas coisas importantes, nomeadamente para abrandar esta vaidade em que se caminhava para endeusar a ciência dos homens aos píncaros da imortalidade.

Com quem passou a Consoada?

Com a Família. E os que partiram. Têm sempre um simbólico prato posto à mesa, o qual, caso não o usem, pode até ser usado por alguém que mais precise. Mas nunca o foi. Nem por uns, nem por outros. É à tarde de Natal que a tradição micaelense continua a reservar a simpatia dessas visitas mais espontâneas de quem passa no frio de fora...

Planos para a passagem do ano?

Descansar destes bonitos dias.

Missa da Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus ou Missa do último dia do Ano com Te Deum?

Sempre Te Deum, tradição que em Portugal inteiro se conserva apenas nesta Ilha. Obrigatório. Missa de Ano Novo quando em gratificante dever de ofício coral.

 Um desejo e um objectivo para 2022?

Prosseguir... Serenamente. Nesta vida ou na seguinte, conforme for o caso.