quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Santa Luzia

"Em dia de Santa Luzia - minga a noite e cresce o dia." De devoção popular, intimamente ligada à aproximação do Natal, dia 13 de Dezembro, a Festa é da Protectora dos olhos.
Reza a história que, quando os guardas vieram buscar Luzia, o seu corpo tornou-se tão pesado que nem muitos homens conseguiram tirá-la do lugar. Foi então vítima de várias torturas, como o fogo que não lhe atingiu e o arranque dos seus olhos que, colocados numa bandeja, voltaram a aparecer, no seu rosto, intactos. Continuou a ser torturada, até que, no dia 13 de Dezembro, um golpe de espada lhe cortou a cabeça.
É orago de três freguesias nos Açores: uma no cimo da cidade de Angra, outra em São Roque do Pico, e outra em S. Miguel: as Feteiras. Foi esta elevada a priorado em 17 de Maio de 1832, com o nome de Priorado de Santa Luzia, com jurisdição sobre a Senhora das Neves da Relva, Senhora da Conceição da Candelária, São Sebastião dos Ginetes e Conceição dos Mosteiros (artº.1º,V).
Celebra a sua Padroeira com bonita Procissão e Eucaristia Solene, no Domingo mais próximo a 13 de Dezembro, cantada pelo Grupo Coral de Santa Luzia das Feteiras, de que tenho o gosto de ser Mestre de Capela neste dia do ano, desde 2005, tendo composto, para a Celebração, o cântico de entrada – Alegrem-se os Santos – e o Ofertório – Constante na Fé.
Festejos que foram revigorados com o dinamismo do Pe. Norberto Brum e do actual Prior, Pe. Maximínio Silva, o qual compôs o Hino da Padroeira.
Sempre um pitoresco passeio a abrir o Natal! Tempo de rever os cantores em mais um ano, gente boa e amiga. Tudo a tempo de chegar a casa e plantar o trigo e a ervilhaca que o dia é o próprio.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Que descanse em paz.

Faleceu esta madrugada o estimado vizinho Gilberto Amaral, cantor do Coro Litúrgico da Matriz e da Capela do Coro Alto. Natural da Povoação, fixara residência nesta Rua do Frias há longos anos. Foi entusiasta colaborador das Festas do Divino Espírito Santo e da Senhora Sant'Anna.
A Missa cantada de corpo presente é amanhã, dia 7 de Novembro, na Ermida de Sant'Anna, às 10.00.
Que descanse em paz!

O Dia da Zona Militar dos Açores

"Não são os famosos de quarenta, é certo, tão-pouco fazem parte dos sete magníficos. São apenas os nossos meninos, que passaram pelas mãos de profissionais competentes e recolhendo a amizade de muitos. E é esse convívio - Espírito Santo, Sant'Ana, Corpo de Deus, Santo Cristo, São João, Senhora da Piedade, Senhor da Pedra e mais umas minudências (...) que vêm valorizando as suas personalidades. Por tudo isso, tiveram o gozo das ovações merecidas no grande Coliseu Avenida."

João Bento Sampaio

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

À Rainha de Portugal

As ruas da cidade ganham uma nova cor. Não. Não é das luzes de Natal, que essas já lá estão há demasiado tempo e ninguém lhes liga. Ou melhor, ninguém lhes ligou até agora. Chegada a Festa da Senhora da Conceição até parece que, só agora, elas se acenderam. Paira no ar o encanto de quem espera o Natal.
8 de Dezembro. Dia Santo de guarda em honra da Rainha de Portugal, também aqui, nesta cidade, venerada com devoção. A Sua Imagem, trazida da Igreja do Carmo, há mais de 100 anos, em Procissão, para a Igreja Matriz, aqui ficou por "permuta" com a Imagem de Nossa Senhora do Carmo, a pedido dos comerciantes da Cidade que a têm por Padroeira e a queriam, por isso, mais perto de si.
Nos costumes, é por estes dias que se estreiam os presépios nos salões e recantos das velhas casas da cidade.
As Novenas à Senhora decorrem com grande afluência, sendo as do Domingo, em Missa Solene, às cinco da tarde, e durante a semana às 18.30, sempre cantadas pela Capela do Coro Alto da Matriz de Ponta Delgada. A Festa, no dia 8, consta também de Solene Eucaristia, à mesma hora, seguida de pequena Procissão à volta das Portas da Cidade, num gesto simbólico de bênção a toda a urbe ali representada na sua entrada nobre.
E, à noite, reza a tradição que é dia das montras. Antigamente o tema obrigatório era o Natal... Sim, o do Nascimento do Menino. Ou a sua Mãe que O espera. Hoje, felizmente, ainda há uns afoitos que o reeditam. São a alma da festa. Nunca chego a saber se são os que ganham os prémios. Sei apenas que são os que ganham a nossa admiração...

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Conjurados 2010

A Mensagem de Sua Alteza Real, o Senhor D. Duarte, lida aos presentes por Estevão Gago da Câmara.
A Mesa dos 21 Conjurados de 2010 em Ponta Delgada, onde se estreou o jovem Gonçalo, aos 9 anos.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Jantar dos Conjurados

Cumprindo a Tradição, Jantar de Conjurados em Ponta Delgada, no cultural Hotel do Colégio, no dia 30 de Novembro, às 20.30.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O Dia da Restauração

Entre os acordes triunfantes do Hino da Restauração, executado pela Banda da Marinha, e habitualmente com o ritmo compassado do pequeno chuvisco que é próprio das tardes de Dezembro, na Praça dos Restauradores, na velha metrópole, promovidas pela Sociedade Histórica Independência de Portugal, com a presença de todos os ramos das forças militares da Nação, decorrem as comemorações oficiais da Independência de Portugal, lembrando às gerações de hoje a nossa História e o nosso Património. De conturbados tempos em que a Nação vivia da coragem e da honra dos valentes que a defendiam.
Ao Meio-Dia é celebrada Missa evocativa, na Igreja de São Domingos de Gusmão. Na véspera, dia 30 de Novembro, no emblemático Convento do Beato, cerca de mil pessoas, ao Jantar, lembram o acto heróico dos Conjurados de 1640, com a presença de Suas Altezas Reais, os Duques de Bragança, numa organização da Causa Real.
Na falta de se celebrar o 5 de Outubro como símbolo dos oitocentos anos de Portugal, desde o Tratado de Zamora, em 5 de Outubro de 1143, ao menos lembramos esta segunda oportunidade, o 1 de Dezembro de 1640 - a Independência Nacional. Belíssima data para o País reflectir sobre o regime político que foi “democraticamente” escolhido pela suave força das armas.
Claro que ainda há quem pense que é de lesa Pátria alinhavar argumentos em favor do trono, como se a Europa evoluída não fosse constitucionalmente monárquica. Não é preciso percorrer todo o norte da Europa, basta atravessar a fronteira para perceber que a velha igualdade estatutária dos reinos ibéricos há muito que libertou esta lusa província económica. Embora, financeiramente, a casa civil deste pequeno País gaste mais metade, sem pompa, do que, com circunstância, a casa real espanhola.
Hoje todos condenamos que, em vez de nascer de razões, a república tenha assente a sua origem no sangue culto e genuinamente português de D. Carlos e do seu jovem filho, sob o olhar impotente da destroçada mãe e Rainha Dona Amélia.
Hoje já aprendemos nos bancos da escola que, afinal, quando veio a República, há muito que o País era um estado de direito democrático.
A causa real é a afirmação da nossa identidade. O que é seguramente muito. Um Rei representa não só o Estado democrático mas também a Nação, de cujos interesses permanentes é o guardião.
A monarquia não se impõe por revoluções, impõe-se pelas suas razões. Neste caso, porque a causa é a inversa, nem é preciso sangue, nem golpes, nem derrubes. Pacificamente, trata-se de dar um Rei à república.
Celebrar a Restauração é assim afirmar a nossa identidade enquanto Nação livre e soberana há mais de oito séculos. Revelar oitocentos anos de cristianismo, de uma Pátria cuja Rainha, a Senhora da Conceição, permanece no trono afectivo de cada português, na genuína devoção à Virgem Santíssima. Felizmente, e apesar de tudo, a lusa coroa permanece simbolicamente na Rainha dos Céus, coroada Rainha de Portugal por D. João IV. Por isso, onde está a Senhora está Portugal.
O nosso grande desafio, enquanto Nação, é o da identidade, enquanto representação e vivência de valores. As Monarquias são um factor dinamizador e incentivador das vontades nacionais. É por isso que, na Europa, nas Monarquias estão os países com níveis culturais e económicos mais elevados.
Comemorando a Nação, relembramos a nossa tripla pertença, enquanto Europeus, Atlânticos e Lusófonos, nesse verdadeiro triângulo estratégico, por vezes esquecido. Evidenciando a nossa natural pertença ao velho continente não deve ser confundido com a investida federal bafejada pela indiferença dos cidadãos, aos quais nada dizem os símbolos ou os pomposos discursos acerca da União Europeia, normalmente baseados em pretensiosismo que, envergando falsas posturas de Estado, mais não fazem do que camuflar a nossa constante e gradual marginalização na tomada de decisões.
Lembrar o Portugal de hoje é também lembrar o fim de uma fase de falso progresso económico, com anos de despropositado júbilo que devia ter sido comedido e refreado pelo custo que a aparência de modernidade implicou no respeito por essas outras riquezas que são o nosso património natural, cultural e arquitectónico.
O republicanismo militante assenta numa espécie de nova religião fanática feita de dogmas intolerantes à discussão, como esse pretensiosismo contemporâneo que decorre de um falso conceito de igualdade.
A igualdade dos homens e de cada homem perante Deus é um princípio de vida que a todos deve nortear na relação com o seu semelhante e no respeito pelo outro. É a grande novidade d’Aquele cujo nascimento dentro em pouco celebramos. É um projecto tão exigente que, ao longo dos séculos, poucos têm sido os que, de entre nós, têm conseguido responder, na sua vida, a esse desafio.
Há, porém, uma outra igualdade – nascida das novas ideias que substituíram Deus pelo próprio homem - a qual deixou de ser uma proposta de vida para servir de bandeira política. Em seu nome, revoluções e guerras acompanham a humanidade de há dois séculos a esta parte, sempre com o mesmo desfecho: os revolucionários que a proclamam, em nome do povo, acabam por tomar o lugar daqueles cujas rendas e poltronas há muito invejavam.
Foi assim logo na Revolução Francesa: a igualdade foi a grande bandeira revolucionária que transformou Napoleão no Imperador. Melhor igualdade é difícil de atingir.
Foi assim durante o século XX, nas conhecidas sociedades igualitárias de Além Berlim, em que, tal como o louco que dirigiu o país em cuja cidade cravaram o muro do mundo, a maior herança que legaram do respeito pela igualdade e dignidade da condição humana são os biliões de ossos de cujos milhões de corpos a vida foi criminosamente arrancada.
Tem sido sempre assim.
Diz-se que na República somos todos iguais. Balelas que enchem as cabeças que não tiveram a sorte ou o engenho de se instruírem e cultivarem por si próprias.
Basta lembrar os excessivos protocolos e as desnecessárias mordomias que convivem de forma ousada com esse princípio político laicamente sagrado que fundamenta esta terceira República: a igualdade.
Então e os excessivos protocolos e as desnecessárias mordomias?
Argumenta-se com a dignidade da função, ou melhor, o grande chavão que esmaga, de uma só vez, a inveja popular – o sentido de Estado. Então um cidadão que esteve em Belém, a reinar sem coroa, não há-de ter, pago pelos cofres públicos, até ao fim dos seus dias, reforma superior ao que recebem umas 20 ou 30 velhotas do povo? Sendo que, neste caso e pelo mesmo prazo, também não dá para as 30 simpáticas velhinhas se juntarem e terem direito a um belo carro com chofer. Também não cabiam. Além disso são do povo. Não como o distinto senhor que já o foi mas hoje faz parte da elite política que fundamenta a sua ascensão social nesse princípio laicamente sagrado: a igualdade.
Na primeira República nenhum Governo chegou a estar tempo suficiente para pensar nisso. Na segunda o tempo era outro e alguém deu-se ao trabalho de pensar que isso não era conveniente. Chegados à terceira República, ninguém disso se lembrou enquanto as golas altas e o Zeca Afonso, o mais eloquente expoente da cultura nacional, foram a moda protocolar.
Depois, claro, é o que se sabe.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

V Aniversário do Restauro do Órgão de Vila Franca

O Órgão de tubos da Matriz de São Miguel Arcanjo foi construído por Manuel de Serpa da Silva, organeiro da Ilha do Faial, que havia aprendido este ofício na América, e que veio a construir diversos Órgãos, nomeadamente o da Matriz de Santa Cruz das Flores, em 1903; e os da Fazenda e da Matriz do Nordeste.
Foi aí colocado e inaugurado na Festa de São Miguel, a 14 de Maio de 1900. Há, porém, no livro de tombo, diversas referências que levam a concluir que sempre houve Órgão nesta Matriz. Assim resulta das visitas de 1674 e de 1798 e das diversas nomeações de organistas.
O coro alto actual, onde se encontra o Órgão, é de 1886, tendo vindo substituir o antigo coreto que existia entre a Capela-mor e a Capela do Rosário.
No livro do tombo encontra-se transcrita a acta da sessão extraordinária desse dia de festa, a 14 de Maio de 1900. Às 11.00 reuniu-se a Junta de Paróquia, a qual era composta pelo Presidente, Prior Jorge Furtado da Ponte, e pelos vogais: Pe. Jacinto Furtado de Couto, Jacinto Soares Botelho de Gusmão, Mariano Borges Soares, António José Raposo, Pe. Manuel Jacinto de Andrade Dias, José Maria de Sousa, António José Pacheco, e pelo Mestre de Capela de então, Urbano José Dias. Participaram ainda o Regedor, João Pereira de Mendonça, e todos os cavalheiros que auxiliaram na angariação de esmolas para a aquisição do Órgão. Foi aprovado um voto de louvor e agradecimento a todos os que contribuíram para a sua aquisição, tendo os seus nomes ficado registados. O total das despesas foi de 1.782$510 reis, estando já pagos 1.392$510 reis, ficando-se assim a dever ao construtor 380$000 reis. A sessão encerrou ao meio-dia, hora em que foi iniciada a solene festividade em honra do nosso Protector, momento no qual o Órgão tocou pela primeira vez.
Durante todo esse ano continuaram-se a recolher donativos, sendo interessante referir a subscrição feita entre os nossos emigrantes residentes na cidade do Pará. Já desde 1898 que, quer o Clero, quer os Músicos, dispensaram todas as gratificações que eram usuais à época pelas festas em favor do pagamento do Órgão. Foi assim com grande satisfação que, passado um ano, a Junta de Paróquia voltou a reunir-se na festa de São Miguel Arcanjo, dando por finda esta sua missão, uma vez que àquela data, 12 de Maio de 1901, encontrava-se tudo pago.
Os nossos antepassados, com grande esforço, do qual ainda hoje beneficiamos, mas com muito entusiasmo, adquiriram assim o imponente instrumento que, do coro alto da Matriz de São Miguel Arcanjo, volvido um século, voltou a soltar os seus acordes festivos a 5 de Novembro de 2005, readquirindo o esplendor que só os vilafranquenses do início do século XX haviam conhecido.
Nas últimas décadas, por diversas circunstâncias, estava o Órgão de Tubos quase votado ao abandono, interrompido de forma simbólica na festa de São Miguel, associando-o, com muito esforço, em cada seu aniversário, na homenagem ao Patrono da Ilha, que desta Igreja Mãe é venerado e celebrado de forma solene.
A recuperação do Órgão foi promovida pelo Mestre de Capela do Coro da Prioral Matriz do Archanjo São Miguel, com a autorização e cooperação da Comissão Fabriqueira, o apoio logístico da Câmara Municipal e o incentivo da Direcção Regional da Cultura, tendo o custo do restauro sido suportado, na íntegra, por essas duas instituições, e adiantado, a título de empréstimo, pelo Prof. Gabriel Cravinho.
O restauro foi entregue à Oficina e Escola de Organaria, com sede em Esmoriz, pelo Mestre-organeiro Eng. Pedro Guimarães, com a colaboração do Mestre-organeiro Harm Kirschner, vindo da Alemanha.
A Inauguração foi tocada pela distinta organista Dr.ª Ana Paula Andrade Constância, abrindo com o marcial Hino do Patrono da Ilha, seguida do Quis Ut Deus e de Solene Te Deum de Bordese, cantados pelo Coro da Prioral. Em jeito de concerto, foram tocadas várias peças, algumas com o precioso canto de Eulália Mendes. No final, cantou o Coro Litúrgico da Matriz de Ponta Delgada, encerrando, em conjunto com o Coro da Prioral, num total de noventa vozes, com uma Homenagem a Nossa Senhora da Paz, composta para a ocasião, e o Aleluia de Haendel.
Aquele Ano Pastoral, dedicado à dignificação do Domingo, dia do Senhor, relembrando aos cristãos a sua importância no encontro com Deus, enquanto dia de festa e de vida, teve na comunidade esse sinal de alegria na beleza que devolveu à Matriz os majestosos acordes desse centenário Órgão de Tubos, implicando mais participação no Coro, o seu regresso ao recato do coro alto da Igreja e maior qualidade no Canto, qualidades que, oferecidas na Liturgia, incentivam o íntimo encontro com Deus.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

São Martinho 2010

A chegada do Senhor de Mello, confrade estreante que muito enriqueceu a sessão anual, em substituição do Irmão Tibério Lopes, perdido nas acções de formação e extenuantes trabalhos que são apanágio da administração.
A aplaudida chegada do ilustre Provador de 2010, Pedro Lima de Araújo Pereira e sua Senhora, que muito honraram a Irmandade com a sua distinção e amizade.
A entrada solene dos confrades, entoando por nove vezes o Hino de São Martinho, aqui a passarem junto à Irmandade das Crianças.
Aberta a pipa, a Prova oficial do precioso nectar das areias de Ponta Garça.
A magnífica Oração de Sapiência do ilustre Provador.
O decorrer dos trabalhos.
Um ponto alto do debate: as muito oportunas interpelações à Mesa.
Um aspecto geral da velha adega: os confrades, as senhoras, as crianças e o povo presente.
O encerramento dos trabalhos, com a leitura do poema "A Minha Rua", escrito em 1951 por Armando Cortes-Rodrigues, em homenagem à carismática Rua do Frias. Tão distinto poeta e vizinho dedicou também a sua pena, em merecida ode, ao vinho das areias de Ponta Garça, considerado o melhor de toda a Ilha, o mesmo que é trazido anualmente para a adega das Casas do Frias e que este ano será para as tradicionais sopas do Espírito Santo.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A Irmandade de São Martinho

Nas Casas do Frias - Casa de São Gonçalo, comemora-se, na sexta-feira anterior ao 11 de Novembro, a noite de São Martinho.
Lá estarão os irmãos de São Martinho, rondando o número de nove, pois de nove se faz Novembro e em nove provas se abre o vinho.
Por isso, aos oito confrades permanentes e ao Provador, o convidado que lidera a nobreza da Prova, é de lembrar que, à velha adega, há que chegar a tempo de, ao toque sereno das nove badaladas, logo em ponto começar.
O Provador convidado do ano e de convite honrosamente aceite fará a prova oficial, a douta Oração de Sapiência e terá a rigorosa direcção dos trabalhos durante a noite de São Martinho, dando e tirando a palavra aos confrades, de modo a tudo decorrer na ordem e solenidade que são tradição e apanágio da Irmandade.
Um irmão traz, aos costumes da tradição, umas palavras para abrir a rodada que irá servir daquele puro vinho aromado das Grotas Fundas, um petisco para o acompanhar e a cantiga que entoará à despedida da sua ronda, passando a palavra ao de idade seguinte, e assim até que se concluam as nove voltas que à pipa se há-de dar em noite de São Martinho.
Na Capela, fica a imagem do popular soldado romano a partilhar a sua capa com um necessitado mendigo, num apelo actual ao nosso espírito de caridade.
À maioria dos confrades de São Martinho, uma vez que o confrade que exerce o cargo de Batoqueiro continua a celebração durante todo o ano, à despedida das comemorações, ficam os nove cravos que ornamentam a imagem, representando, em cada um, cada uma das nove famílias dos irmãos, a alegria da partilha e o valor da amizade.

Regimento da Veneranda Irmandade de São Martinho das Casas do Frias

1º É instituída a Irmandade de São Martinho das Casas do Frias.

2º A Irmandade é composta pelo Provador e por oito confrades permanentes: Paulo Domingos Alves de Albergaria Botelho de Gusmão, João Francisco de Sales Bento Sampaio, João Paulo Constância, Tibério Gil Lopes, Frederico André Cabral Sampaio, Cláudio Manuel Pacheco Medeiros, Edgardo Costa Madeira e Válter Manuel de Sousa Xavier.

3º O Provador é convidado anualmente pelo Guardião da Irmandade, podendo sê-lo também um dos confrades permanentes, quando especiais feitos entretanto realizados o justifiquem.

4º Ao Guardião da Irmandade, Senhor da Adega de São Martinho, cabe zelar pelo cumprimento da Tradição e do Regimento.

5º Ao confrade Cláudio é confiada a tarefa de Batoqueiro, responsável pelo Vinho; ao confrade Edgardo, a de Agitador, responsável pelos garrafões; e ao confrade Xavier, a de Cartoleiro, responsável pela pipa.

6º A Irmandade reúne anualmente, na sexta-feira anterior ao 11 de Novembro, dia de São Martinho, na Adega das Casas do Frias.

7º Os confrades reúnem-se à entrada da Casa às 20.30, vestindo as suas capas, recebendo o Provador à porta, escolhendo o seu copo e aguardando as nove badaladas do sino para se iniciar a cerimónia.

8º Às nove badaladas, os confrades saem em cortejo, entoando o Hino, de copo ainda vazio, por ordem decrescente de idades, com o Provador à frente, rumo à Adega, parando à porta da Capela, onde, homenageando São Martinho aí ornamentado, entoarão por nove vezes o seu Hino.

9º Chegados à Adega, estando todos de pé, cabe ao Provador abrir a Pipa e saborear o precioso néctar, servindo, após a Prova, todos os Confrades e povo presente.

10º Provada, por todos, a primeira das nove rodadas, o Provador mandará os confrades sentarem-se em volta da mesa e o povo presente em bancos corridos ao fundo da Adega.

11º Proferirá então o Provador a sua Oração de Sapiência, servindo aos confrades o petisco por si trazido e terminando com uma canção com que brindará os presentes.

12º Vazados todos os copos, proferirá então o Guardião da Irmandade a sua Intervenção, servindo aos confrades a segunda rodada e o petisco por si trazido, terminando com uma canção com que brindará os presentes.

13º Vazados todos os copos, proferirá então o confrade mais velho a sua Intervenção, servindo aos confrades a rodada seguinte e o petisco por si trazido, terminando com uma canção com que brindará os presentes e assim sucessivamente.

14º Terminadas as nove rodadas, será cantado o Hino por nove vezes, intercalando-se com vivas a S. Martinho, ao Vinho de Cheiro, à nossa Adega, ao Provador, aos Confrades, às Mulheres destes, aos seus Rapazes, à Amizade e à Tradição!

Casas do Frias – Adega de São Martinho, 6 de Novembro de 2009

Publique-se. O Guardião da Irmandade. Paulo Domingos Alves de Albergaria Botelho de Gusmão.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O dobrar dos sinos

Na sua linguagem ancestral, uma das mais belas cadências dos sinos é o seu toque de dobre, o qual, em terra lusitana, do alto das torres das catedrais ou do cimo dos campanários de recônditas aldeias, é o toque de Finados: o choro dos sinos por aqueles que partiram desta vida.
É extraordinário como, do mesmo instrumento e do conjunto dos mesmos timbres e tons, tanto se enche o som da mais profunda tristeza, como, em dia de repique, se anuncia alegria, vida e Ressurreição. Apenas pela diferença de ritmo ou, talvez mais importante, pela diferente simbologia com que cada toque envolve o nosso espírito, que os tem imbuídos na nossa própria identidade.
Assim é por estes dias... Após festejarmos os Santos com indubitável alegria, lembramos os nossos que partiram, que nos transmitiram o que somos e O que cremos, pedindo por eles e para que possam estar em situação próxima dos festejados.
Há quem fuja de tristezas. Mas, quase por azar, vão-lhes, mesmo assim, bater à porta.
Há quem encare a vida com alegria. Destes, são as tristezas que, naturalmente, lhes fogem, porque em tudo o que lhes chega conseguem descobrir ponta de alegria e de esperança.
Ora, para quem se enquadra nestes últimos, quão grande é a beleza desse encontro entre os que estão e os que partiram: cadenciado pela gravidade dos sinos que choram sem silêncio; decorado pelo pesado preto que não precisa de cor para se impor aos olhos cansados de banalidades; interiorizado no íntimo das almas que conseguem admitir em si a pequenez humana com que duvidam do Divino; amarrado a notas largas que timbram vozes suplicantes em ardente Requiem: Libera me Domine de morte aeterna... De uma alegria melancólica. É certo. Daquela alegria que quase perfura a alma, que derrama saudade, mas que assenta na Fé.
Outros preferem esconder-se da realidade da Vida. E, quanto mais se escondem, menos descobrem a Alegria...
E há espaço e tempo para tudo.
Tempo até para as importações de costumes ingleses, que por terem origem medieval e fazerem o contentamento da criançada, vieram para ficar e mal também não trazem.
Tempo para a glorificação dos Santos, tão esquecidos pela religiosidade contemporânea, numa busca quase fanática pelo “essencial”, conceito cada vez mais próximo do vazio absoluto!
Tempo para a visita aos restos mortais daqueles que fazem parte dessa secular cadeia dos que nos passaram o sopro da vida, ou aos de parentes e amigos, aos de gente por quem um dia choramos…
Assim também o fazemos em dia de Todos os Santos. Ao amanhecer, Ponta Garça. Próximo da Solene Missa do Meio-Dia, Vila Franca, com os sentidos acordes da Banda Lealdade que ali pisa em homenagem aquele chão sagrado. No regresso, já em dia de finados, Ponta Delgada. Em todos são deixadas à terra da sepultura as singelas flores nascidas na terra da mesma casa que a muitos deles – avós e tios - deu habitação nessa outra vida que um dia findou… Esperando que também assim, em pétalas de saudade, possamos merecer recordação e oração dos que ficam, quando chegar a hora de mudarmos de terra e nos reencontramos nessa Terra Eterna a que chamamos Céu.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A Capela do Coro Alto da Matriz de Ponta Delgada

A Matriz de Ponta Delgada tem no seu património uma prestigiada tradição coral, em cinco séculos de vida musical dirigida ao louvor do Criador.
A sua Capela que, do velho Coro Alto, tantas Missas cantou, além da importante missão de solenizar as grandes festividades da Igreja Matriz, com a mais erudita música sacra que compõe o rico património histórico e espiritual da Santa Igreja, esteve sempre presente nos momentos de júbilo mais marcantes desta Ilha, nos quais lhe cabia a execução de Solene Te Deum.
Na sua regência e no órgão, como mestres de capela e como organistas, sempre estiveram vultos conceituados na música, mormente na música sacra.
É a segunda Capela mais antiga da Ilha, após a da Matriz de Vila Franca do Campo, tendo sido seu primeiro Mestre de Capela, no início do século XVI, de acordo com Gaspar Frutuoso, Sebastião Ferreira, pago pelo Rei, tendo esta Capela tanta fama que podia comparar-se a qualquer outra “Sé de grossíssima renda”.
Nota curiosa é dada pela Prof.ª Susana Costa, no seu trabalho Da Eternidade à Historicidade: em 1786, o capitão Francisco Machado de Faria tem problemas em fazer cumprir um vínculo instituído por José Tavares, pois o Mestre de Capela da Matriz de Ponta Delgada recusava-se a cantar as três missas de Natal e a novena pelo preço deixado pelo testador, no valor de 2 700 réis, alegando em carta apresentada ao Provedor: “O meu trabalho, ninguém o pode taxar; a quantia de 2700 não é suficiente para eu satisfazer, aos meus Músicos, nove Missas cantadas em madrugadas de Inverno” pedindo assim que fosse aumentado o estipêndio ou reduzido o número de Missas…
Mas é do século XIX que temos notícia do seu máximo expoente: o Padre Joaquim Silvestre Serrão, organista e compositor sacro, que marcou o seu tempo de tal forma que ainda hoje é bem viva a marca da sua Escola. Tanto assim que os Hinos conhecidos desta Ilha são na sua maioria de alunos seus e têm sempre o toque da sua escola: a divisão em três partes – andante, “dedilhado” e marcial.
Joaquim Silvestre Serrão deixou uma vasta obra musical, que inclui matinas e ofícios completos para as cerimónias da Semana Santa e responsórios vários, entre os quais um dedicado a São Sebastião, o padroeiro, além de Hinos como o da Senhora da Conceição e o do Menino Jesus. Normalmente a autoria dos seus Hinos vem por tradição oral, pois que não vêm assinados.
Francisco de Lacerda considerou-o um verdadeiro talento musical, destacando a qualidade das suas Matinas da Semana Santa.
O Padre Serrão foi também um notável organeiro. Em colaboração com João Nicolau Ferreira, reparou e construiu um número significativo de órgãos das várias ilhas. Esteve ao serviço da Matriz de 1841 a 1877.
Veio para Ponta Delgada a convite do seu grande amigo D. Frei Estêvão de Jesus Maria, notável Bispo que entrou na diocese de Angra em 1840, tendo permanecido em Ponta Delgada por 19 anos, até que assentasse a poeira liberal na velha sede do bispado. Essas décadas de quarenta e de cinquenta, nesta cidade, ficaram assim marcadas por grandiosos pontificais que em muito se deveram à solenidade do Prelado e à mestria do distinto músico.
Foi posteriormente Mestre de Capela da Matriz o seu aluno Jacinto Inácio Cabral, nascido por volta de 1812, autor do Hino do Espírito Santo, e de muitas outras composições, como o Hino da Banda Velha de Rabo de Peixe, estreado na Festa de 1868, ou o Hino de N.ª Senhora da Luz, estreado na Festa dos Fenais, em 1889.
Já no século XX, dirigiu a Capela Manuel Maria de Melo, sendo seu maestro em 17 de Fevereiro de 1952, nas Solenes Cerimónias do Centenário do Liceu Nacional, do qual era também professor de Canto Coral, e de quem se conhece a composição de uma Missa, de um Te Deum e da obra Contemplação. Também sob a sua Regência foi cantada por esta Capela a inauguração da Ermida de Nossa Sr.ª de Fátima no Livramento, a 13 de Maio de 1956.
Sucedeu-lhe Norberto Juvenal Pimentel da Costa, já barítono do Coro no tempo de Manuel Maria de Melo e, posteriormente, Luís Teves, também compositor e que ainda colabora com a Capela do Coro Alto.
Após a vinda do Monsenhor José Ribeiro Martins para a Matriz, em 1977, foi Mestre de Capela o Doutor José Carlos Rodrigues, precursor na Ilha da nova escola interpretativa trazida de Roma, para o Seminário, pelo Pe. José Silveira de Ávila, nos anos vinte, e aprofundada pelo Dr. Edmundo Machado de Oliveira, nos anos cinquenta, de quem foi aluno.
Entretanto, de acordo com o então dominante conceito generalista do chamado “espírito do concílio”, interrompeu-se a tradição coral sacra desta Capela, tendo então o seu maestro fundado, com outros antigos colegas de Seminário, o Orfeão Edmundo Machado de Oliveira, dedicado também ao tesouro artístico musical da Igreja.
Como na maior parte das Igrejas do País, passou a existir então um Grupo Coral, com cânticos mais acessíveis à aparente participação do Povo...
O Grupo Coral ficou desde o início a cargo do então jovem maestro Francisco José do Rego Botelho, o qual, nestas três décadas, foi solenizando o repertório do Coro, também graças às diversas acções de formação em que foi participando, tendo completado o curso de director de coro da Escola de Música Sacra do Centro Nacional de Pastoral Litúrgica, e graças a um reposicionamento que lentamente a Igreja portuguesa tem vindo a fazer mais solidificado na letra dos reais e oficiais documentos do Concílio e menos no tão virtual conceito de “espírito do concílio”.
O Coro Litúrgico anima habitualmente a Missa Paroquial do Meio-Dia.
A 7 de Outubro de 2007, dia de Nª Sr.ª do Rosário, visando solenizar a Missa Dominical das Cinco horas, na Igreja Mãe de Ponta Delgada, a qual é participada por muitos fiéis de visita à cidade, foi criado um pequeno Coro, em forma de Capela, cantando no Coro Alto, acompanhado dominicalmente pelo Órgão de Tubos e violino, nesse emblemático espaço litúrgico, onde, durante séculos, floresceu a melhor tradição coral da cidade e da Ilha.
É seu Mestre de Capela Paulo Domingos Alves de Albergaria Botelho de Gusmão, Advogado, cantor e organista nesta Igreja desde 1987, então com 12 anos.
É Organista nas Festas a Titular da Matriz, Dr.ª Ana Paula Andrade Constância, distinta Professora e Directora do Conservatório Regional de Ponta Delgada, e, dominicalmente, o dedicado jovem Frederico Costa, aluno de Órgão da Profª Cristiana Spadaro. É violinista João Costa, artista de talento e promissor músico.
A Capela do Coro Alto da Matriz de Ponta Delgada é composta por vinte elementos, a maior parte com formação musical, os quais, empenhadamente, procuram contribuir para a solenidade, brilho e espiritualidade na liturgia.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A Música na Liturgia

112. “A tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte…”
116. “A Igreja reconhece como canto próprio da liturgia romana o canto gregoriano; terá este, por isso, na acção litúrgica, em igualdade de circunstâncias, o primeiro lugar”.
118. “Promova-se muito o canto popular religioso…”
36. “Deve conservar-se o uso do latim nos ritos latinos…poderá conceder-se à língua vernácula lugar mais amplo … em algumas orações e cantos…”
In Constituição A Sagrada Liturgia

Ou, no saber de Joseph Ratzinger: “Gandhi evidencia três espaços de vida do Cosmo e mostra como cada um destes três espaços vitais comunica também um modo próprio de ser. No mar vivem os peixes e silenciam. Os animais sobre a terra gritam, mas os pássaros, cujo espaço vital é o céu, cantam. Do mar é próprio o silenciar, da terra o gritar e do céu o cantar. O homem, porém, participa de todos os três: ele carrega em si a profundidade do mar, o peso da terra e a altura do céu; por isto são suas as três propriedades: o silenciar, o gritar e o cantar. Hoje (...) vemos que ao homem privado de transcendência permanece somente o gritar, porque deseja ser somente terra e procura transformar também o céu e a profundidade do mar em sua terra. A verdadeira liturgia, a liturgia da comunhão dos santos, devolve-lhe a sua totalidade. Ensina-lhe novamente o silenciar e o cantar, abrindo-lhe a profundidade do mar e ensinando-o a voar, o ser do anjo; elevando o seu coração, faz ressoar de novo nele aquele canto que se havia adormecido. Ou ainda, podemos dizer que a verdadeira liturgia se reconhece exactamente no facto de que esta nos liberta do agir comum e nos restitui a profundidade e a altura, o silêncio e o canto. A verdadeira liturgia reconhece-se no facto de ser cósmica, e não sob a medida de um grupo. Ela canta com os anjos. Ela silencia com a profundidade do universo à espera. E assim ela redime a terra”.
In Cantate al Signore un Canto Nuovo, pp. 153-154

Eis em breves linhas as principais determinações para o papel da Música na Liturgia e o seu sentido último aqui metaforicamente descrito pelo actual Pontífice Reinante, Bento XVI.

Os Coros e Capelas têm assim a dificílima tarefa de ajudar os fiéis a participar espiritualmente no Sacrifício Eucarístico, o que exige elevação, missão bem mais profunda e trabalhosa do que pôr a Assembleia meramente em acção, a como infelizmente nos acomodamos em muitas das nossas comunidades.
Infelizmente, ou por muitos dos responsáveis eclesiásticos não serem gente da Música ou da arte, ou por muitos dos responsáveis da Música e da arte na Igreja não serem gente crescida na liturgia, só agora, com o refrescar da memória do verdadeiro conteúdo dos documentos conciliares, com a subida ao trono pontifical do grande teólogo citado, com o esforço incansável, persistente e decido do Santo Padre, passados quarenta anos, se começa a perceber o erro de algumas das ligeirezas que nos foram ensinadas por responsáveis da própria Igreja, às gerações mais novas, muito próprias dos devaneios da época, certamente com a melhor das intenções, mas que afinal eram fruto de falta de estudo e má interpretação do próprio Concílio – “diz-se que agora é assim” - além de terem resultado no esvaziamento das Igrejas a que fomos assistindo nestes anos de “aproximação aos tempos de hoje”!
Claro que a verdadeira Música Sacra dá trabalho a ensaiar, a executar e, às vezes, até a fazer compreender e chegar ao seu fim último, que é a interiorização e a espiritualidade.
Claro que, à primeira vista, sobretudo nos meios mais periféricos que não são nem bucolicamente rurais, nem culturalmente urbanos, as pessoas, ao primeiro instinto, preferem coisas mais ligeiras, que lhes puxe ao sentimentalismo primário que está à flor da pele. Dá a mesma alegria de quem traz para casa sacos cheios de compras.
Nessa versão a Missa é festa, é folia, é palmas… rapidamente se transformando em biatisse e a pieguisse de muito calor entre os homens, mas de conteúdo muito frio entre os homens e o Sacrificado no Altar!
A Missa serve para fazer o Homem encontrar-se com Deus, interiorizar, participar da Sua paixão e morte, crendo na Sua Ressurreição.
Aliás, só esse é o sentido do apelo à participação do Concílio Vaticano II, conforme o Magistério da Igreja, muitas vezes confundido com o perturbador activismo dos leigos na liturgia.
A Missa será assim Ritual? Claro!
Mas vamos ficar presos a fórmulas? Não devemos inovar e adaptar? Devemos, quem? Quem é um para se achar superior a quantas gerações nos legaram a Tradição ou aos tantos que estudam a Liturgia com profundidade ou a vivem com tão maior espiritualidade?
A Missa só é Solene se for Ritual: com a sacralidade que cada palavra transporta, na oração ou no canto!
Aliás, a discussão sobre o tema é quase inócua. Só há uma forma de o fazer: mostrando na prática quão mais rica é a liturgia quando envolta na arte da música sacra trabalhada sobre a intemporalidade do latim.
Hoje, que a maior parte dos que gritavam por simplismo e banalidade abandonou a Igreja à medida que o foi conseguindo, restando já apenas alguns saudosistas das velharias ideológicas dos anos sessenta, o tempo para os cristãos é de amadurecermos e entendermos a riqueza da Liturgia, de alma e coração, convictamente, aprofundando o trabalho litúrgico que a Igreja nos tem desafiado a fazer, percorrendo na celebração da Fé o caminho que distingue a nossa pequenez e miséria da grandeza e do esplendor de Deus.
Só é digno de Deus o melhor que cada Homem consegue.
Desde logo o Canto e a Liturgia.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010