segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A noite do Madeiro.

No silêncio que oferece a serena noite, só o estalar da madeira timbra o tempo, aquecendo os cantares ao Menino, num sentimento comum que centra naquele aconchegante fogo a imagem da Luz que Ele trouxe ao Mundo. É essa a tradição do madeiro: o calor, também humano, que rasga a gélida escuridão.
Um Menino nasceu! Começou um tempo novo.
O madeiro do Menino é o símbolo do Sol que nasceu para iluminar todo o homem que vem ao mundo.
Os povos antigos faziam o ritual sagrado do fogo no solstício de Inverno para que o sol voltasse a brilhar com maior intensidade. O povo cristão acende o madeiro para que o Menino nascido volte a brilhar na nossa civilização.
Na Casa de São Domingos, à velha Rua do Senhor, cumpre-se o antigo uso. Ali, no coração da sempre Vila, em Domingo da Sagrada Família, este ano 27 de Dezembro, às oito horas da noite, as chamas da tradição iluminam o tempo que passa.
Em redor do madeiro cantam-se laudas ao Menino, recita-se um conto de Natal, as crianças esboçam poesia e aconchega-se a amizade.
Ao entrar em casa, percorrem-se, em serenata, os recantos em que está representado o afecto do Menino, ornamentado por toda a Casa de três modos, pois que o três simboliza todos: em altares, lapinhas e présépios. E para que não falte o número da perfeição: sete altares, sete lapinhas e sete presépios.
E ao terminar, a partilha de singelas mesas postas com os doces típicos e os calicezinhos, popularmente calzins, aguardando, anualmente, neste dia, a fraterna presença dos amigos à visita do Natal.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Concerto de Natal.

No Sábado anterior ao Natal, este ano 19 de Dezembro, pelas 21 horas, é noite de estrear, com a Banda Lealdade, o repertório para o Natal, num pequeno Concerto, por esta promovido, na Matriz de Vila Franca do Campo com o Coro da Prioral.
Em tempo de Advento, mais do que um Concerto, é uma noite de ensaio geral para o Natal, partilhada com a comunidade.
Após uma primeira parte em exclusivo com a Banda Lealdade, juntam-se as vozes, aos timbres dos sopros, para entoar o "Príncipe do Egipto", com o som puro das crianças; o Puer Natus in Betlheem, em processionário beneditino; a sempre bucólica "Pastoral" de Mendelson; a homenagem à Virgem, com a Ave Maria de Witt; e o "Coro 12" do Messias de Haendel, no velho latim, a fechar o canto na secular Matriz micaelense.
Entre silêncio e elevação do espírito, que palmas na Igreja é euforia já em desuso e o importante ainda está para vir: a Noite de Natal.
O tempo, para os cantores, é assim de participados ensaios, que a Festa está à porta. A Grande Noite tem um encanto especial que ainda mais se aviva quando envolta na vontade de dar corpo à arte dos sons, tão intimamente a ela ligada.
Ao toque festivo dos sinos, o Gloria in excelsis Deo marca-a com a harmonia das vozes e a imponência do Órgão de Tubos, mero rei dos instrumentos, prostrando tons de júbilo ao Rei dos reis. Mas é dali, do Coro Alto, que se percebe que aquele será sempre o melhor palco do mundo, de onde a música se eleva não ao agrado dos homens mas à magnificência do Criador.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Santa Luzia o trigo e a ervilhaca vigia.

"Em dia de Santa Luzia - minga a noite e cresce o dia."
De devoção popular, intimamente ligada à aproximação do Natal, dia 13 de Dezembro, a Festa é da Protectora dos olhos.
Reza a história que, quando os guardas vieram buscar Luzia, o seu corpo tornou-se tão pesado que nem muitos homens conseguiram tirá-la do lugar. Foi então vítima de várias torturas, como o fogo que não lhe atingiu e o arranque dos seus olhos que, colocados numa bandeja, voltaram a aparecer, no seu rosto, intactos. Continuou a ser torturada, até que, no dia 13 de Dezembro, um golpe de espada lhe cortou a cabeça.
É orago de três freguesias nos Açores: uma no cimo da cidade de Angra, outra em São Roque do Pico, e outra em S. Miguel: as Feteiras. Foi esta elevada a priorado em 17 de Maio de 1832, com o nome de Priorado de Santa Luzia, com jurisdição sobre a Senhora das Neves da Relva, Senhora da Conceição da Candelária, São Sebastião dos Ginetes e Conceição dos Mosteiros (artº.1º,V).
Celebra a sua Padroeira com bonita Procissão e Eucaristia Solene, cantada pelo Grupo Coral de Santa Luzia das Feteiras. Festejos que têm sido revigorados com o dinamismo do seu Prior, Pe. Maximinio Silva.
Um pitoresco passeio a abrir o Natal. A tempo de chegar a casa e plantar o trigo e a ervilhaca que o dia é o próprio.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Nossa Senhora da Conceição.

As ruas da cidade ganham uma nova cor. Não. Não é das luzes de Natal, que essas já lá estão há demasiado tempo e ninguém lhes liga. Ou melhor, ninguém lhes ligou até agora. Chegada a Festa da Senhora da Conceição até parece que, só agora, elas se acenderam. Paira no ar o encanto de quem espera o Natal.
8 de Dezembro. Dia Santo de guarda em honra da Rainha de Portugal, também aqui, nesta cidade, venerada com devoção. A Sua Imagem, trazida da Igreja do Carmo, há mais de 100 anos, em Procissão, para a Igreja Matriz, aqui ficou por "permuta" com a Imagem de Nossa Senhora do Carmo, a pedido dos comerciantes da Cidade que a têm por Padroeira e a queriam, por isso, mais perto de si.
Nos costumes, é por estes dias que se estreiam os presépios nos salões e recantos das velhas casas da cidade.
As Novenas à Senhora decorrem com grande afluência, sendo a última, em Missa Solene, no Domingo às 5 de tarde. A Festa, na Terça-Feira, consta também de Solene Eucaristia, à mesma hora, seguida de pequena Procissão à volta das Portas da Cidade, num gesto simbólico de benção a toda a urbe ali representada na sua entrada nobre.
E, à noite, reza a tradição que é dia das montras. Antigamente o tema obrigatório era o Natal... Sim, o do Nascimento do Menino. Ou a sua Mãe que O espera. Hoje, felizmente, ainda há uns afoitos que o reeditam. São a alma da festa. Nunca chego a saber se são os que ganham os prémios. Sei apenas que são os que ganham a nossa admiração...