quinta-feira, 30 de abril de 2009

De Regresso.

Embebido nas ruelas da imponente Cidade que serve de berço à nossa civilização e Capital do Império Cristão, da Roma Eterna agora chegado, volto à escrita deste modesto Jornal atordoado pela magnificência desse outro mundo. Ou melhor, do mundo!
Mas pergunto-me, como os gauleses, serão os romanos loucos? Conservam então tudo quanto têm com tal arte e beleza que nos oprime a vergonha de vivermos em cidadelas inundadas de contemporâneo! Numa cidade de tantos quilómetros porque cargas de água há-de ser tudo belo? Não têm lá também destes artistas de agora ou dos nossos arquitectos de toque actual? Para que querem eles pedras e pedrinhas com dois mil anos? Só para terem milhões de turistas e uma cidade magnífica? Nunca ouviram os nossos intelectuais políticos que sabem que o tempo não pára? O que vale mais: o vosso pedante bom gosto ou o nosso pindérico novo-riquismo? Fiquem lá com os turistas que nós ficamos com o cimento armado!
E os sinais cristãos? Julgam que por serem 60 milhões numa só cidade têm direito a ofender a cavalgada do laicismo que, furiosa, há anos que não sai dos subúrbios? Então milhares de padres envergarem batina com a mesma naturalidade com que também se passeiam pela histórica zona de esplanadas e tasquinhas, ofendendo assim a militante voz progressista do clero fundamentalista dos loucos anos 60 que tanto tem feito pela destruição da Igreja por estas paragens? E a foto do Papa em todo o lado, até em bares e restaurantes? Não sabem que a Odete Santos não gosta do Papa? Não lêem os jornais portugueses que são contra o Papa? Quem pensam os romanos que são para, sem o nosso consentimento, o venerarem a tal ponto?
E tudo é grandioso. Não sabem eles que a verdadeira arte e a cultura digna desse nome são obra do maligno e causa de todos os males? Porquê música quase divina, quando o homem deve chafurdar na guitarrada pimba que nos torna a todos desprezivelmente igualitários? Não sabem os romanos que a grandiosidade que apresentam ao mundo pode ofuscar a pequenez do azedume de quem nada sabe fazer e refugia-se nas virtudes do simplório?
Onde pensam os romanos que vão? Nem sequer são democráticos: entregaram a Câmara à Direita, ignorando todas as regras ditadas em Portugal, mais velha democracia do mundo, única em que à política e ao jornalismo só acedem pessoas de elevada educação e com provas dadas no mundo profissional e no saber.
Estranho Povo!
E por que raio têm um ar bem disposto?
Ainda bem que me vim embora. Não fosse algum dia dar-lhes razão!

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Hino popular a Dom Nuno.

Herói e Santo,
Dom Nuno imortal,
Valei à terra de Portugal!

I
Dom Nuno Álvares Pereira
Nosso encanto e nossa glória,
Retomai vossa Bandeira
E levai-nos à vitória.

II
Em vosso peito de crente
E robusto lutador
Ardem continuamente
Chamas de fé e amor

III
Carmelita e Cavaleiro,
Abraçando a Cruz da Espada,
Mostraste ao mundo inteiro
O valor da Pátria Amada.

IV
Ébria de sonho e de aurosa,
Voss'alma fremente e bela,
Brilhou nas eras de outrora
Mais alto do que uma estrela.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Ao Beato Nuno de Santa Maria.

O túmulo de Nuno Álvares Pereira foi destruído no terramoto de 1755. O seu epitáfio era: "Aqui jaz o famoso Nuno, o Condestável, fundador da Casa de Bragança, excelente general, beato monge, que durante a sua vida na terra tão ardentemente desejou o Reino dos Céus depois da morte, e mereceu a eterna companhia dos Santos. As suas honras terrenas foram incontáveis, mas voltou-lhes as costas. Foi um grande Príncipe, mas fez-se humilde monge. Fundou, construiu e dedicou esta igreja onde descansa o seu corpo."
Domingo, na Cidade Eterna, a Pátria engrandece-se. Como disse o Cardeal Patriarca, em Lisboa, o Beato Nuno é do melhor que Portugal teve na sua História: um Homem da causa pública e de fé.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

À Cidade Eterna.

Acabado de chegar ao centro da civilização, para o grande acontecimento do próximo Domingo.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Carros Antigos

Para quem aprecia carros antigos, um bom sítio com sugestões de aquisição e instruções de restauro:



http://www.portalclassicos.com/forum/

terça-feira, 21 de abril de 2009

Charneca em Flor

Enche o meu peito, num encanto mago,
O frémito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...

Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!

E, nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu bruel,
E já não sou, Amor, Soror Saudade...

Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!

Florbela Espanca

segunda-feira, 20 de abril de 2009

São Pedro Gonçalves.

Com velas de esperança,
A navegar,
O cais da vida
Buscamos sem cessar.

Ao Porto da Glória
E nas tempestades
Conduz os homens
São Pedro Gonçalves.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Irró, ó meu Santo Irró.

É já Domingo, na velha Capital, a festa de São Pedro Gonçalves, chamada de festa do Irró, em alusão ao grito dos homens do mar a puxarem os seus barcos para terra, avenida acima, para serem devidamente ornamentados em homenagem ao Santinho.
Domingo, sai à Rua a Procissão, pelas 15.00, entrando na Igreja de São Miguel para a Missa de Festa, cantada pelo Coro da Prioral Matriz e celebrada por sua Excelência Reverendíssima o Senhor Dom António, Bispo de Angra, prosseguindo, por entre magníficos tapetes, de regresso à hoje também sua Ermida que, santamente, divide com Santa Catarina, sua titular, desde que a sua centenária Capelinha, junto à Praia do Corpo Santo, a que deu o nome, foi ao chão, no início do século XX, com o peso do tempo.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Um grito de festa.

De "Viagens no Tempo", de Bento Sampaio

Já se vê que o presbítero ficou desolado com o fiasco, “senhor padre, nada de apoquentar, não falta água na fonte…”
Ora, se me doía o coração em ter assistido impotente a toda a Via Crucis daquela semana, e como era inacreditável aceitar e entender, na minha idade de menino, os passos sinistros que o saudoso padre Rei relatava, “Jesus cai pela terceira vez”, e nada podia contra tamanha barbárie, “Jesus é pregado na cruz”, voltava ele mais aluído e contristado.
Lembro-me tão bem da minha revolta contra quem ousara acusar, açoitar, prender e crucificar um Homem bom e generoso, “isso foi mesmo verdade?”, perguntava à minha mãe, colando-me ao seu ouvido, “psiu…”, pedia-me silêncio. Por isso, cantava perturbado, “permiti que eu vos ajude a levar a vossa cruz”, implorando numa igreja lúgubre, cinzenta de tristeza – oh, como tudo estava consumado.
Ainda há uma semana ouvira, “muitos meninos estenderam os seus mantos e com ramos aclamavam…”, à Sua entrada em Jerusalém, numa impressionante euforia, “bendito o que vem em nome do Senhor!”.
Mas é assim, passeou-se o Senhor morto na noite de sexta-feira até ao Calvário, pouco acima da nossa casa, como se aquela tragédia ocorresse no meio de nós. Para cúmulo, o passeio pungente ainda vinha acompanhado da pesarosa marcha fúnebre, arrastando-se a filarmónica entremeada ao som estridente de matracas – que coisa mais funesta.
Mas tinha que acontecer um grito, “logo, quando o sino der meio-dia…”, apregoou o mais velho do rapazio esbaforido da minha vizinhança, e ele mexia-se, inquieto que o cerimonial da Semana Maior chegasse ao fim. E, quando passava o Carlos sacristão para a igreja, “está quase, rapazes…”, anunciou ele sorridente.
Logo ao primeiro toque do sino pequenino, o líder gritou, “aleluia, piãs pra rua!”, e toca de lançar o pião, uns contra os outros, numa resposta pronta e assanhada contra o Belzebu, “morre demónio!”.
Bem, ainda Heandel vinha muito longe de lhe descobrir a beleza barroca da sua magistral oratória “O Messias” – e mesmo que dela soubesse, tampouco tínhamos rádio lá em casa para apreciá-la –, e ouvira falar ao professor Eduíno do coro “Aleluia”, porventura o mais conhecido da grande obra do compositor alemão, ao tempo em digressão por Inglaterra.
Anos depois, pela boca de quem veio a seguir, o padre Gil, “ainda gosto mais do ‘Amen’, é fantástico!”, e grande era o entusiasmo dos dois por recordarem o orfeão do seminário de Angra, regido pelo padre José d’Ávila.
Até que uma vez aconteceu, na Semana Santa, escutar no programa Que quer ouvir? do Emissor Regional, “a pedido do ouvinte… vamos transmitir o Aleluia de Händel”, anunciava Sílvio do Couto.
Chamei minha mãe do quarto da costura e tranquei-me com ela no quarto de jantar. Colei-me ao rádio, e fechei-me todo naquela maravilha, antevendo aquele grito de festa na entrada triunfal de Jesus em Jerusalém para a celebração da Páscoa.
Pois já era assim o mundo das artes dos outros, duzentos anos antes… Enche o meu peito, num encanto mago, o frémito das coisas dolorosas...
Adiante. O novo padre metera-se em grandes obras, transformando por completo a capela do baptistério com uma enorme pia em pedra basáltica no centro, e um bonito portão em ferro. Tudo cheirava, de facto, a novo, mas à custa da graciosa pia em mármore, sacrificada ao abandono da arrecadação que, muitos anos depois, passou a um lugar condigno na sacristia, e bem.
Já crescido, mexendo-me bem no dentro e fora da igreja, arrebanhou o novo vigário os ratos de sacristia para as cerimónias a decorrer no Sábado Santo, “tu levas o alguidar com a água benta”, disse-me na véspera, “o barro do alguidar joga bem com a pedra…”, discorria assim o padre Gil.
Em casa, já a noite se adiantava, cheirava mesmo a festa com massa fresca, a boa Maria a mexer a panela de papas de arroz para o domingo, e eu a preparar-me para rapá-la.
Apesar disso, comecei a consumir-me com a incumbência do baptistério, não fosse deixar cair a vasilha de barro.
Diferente e novo em ideias, o dinâmico vigário entendeu que o meu tamanho de rente-ao-chão poderia, na verdade, complicar-se, “está bem”, e fui substituído.
No meio dos novos cânticos e rezas, muitos eram os mirones a assistir ao ritual nunca visto. Quando se preparava para derramar a água já benta para dentro da pia, o Teófilo Quental, um rapagão bem espigado, calculou mal a altura da pia, o azar veio juntar-se ao cerimonial, quebrando-se o alguidar no chão e a água benta bem te vi…
Já se vê que o presbítero ficou desolado com o fiasco, “senhor padre, nada de apoquentar, não falta água na fonte…”, e foi esse mesmo o remédio prescrito pelo desenrascado sacristão, “in nomine Patris…”, benzeu o vigário a nova dose...
Santa Páscoa.
P. S. – Um diferente conceito, o da visibilidade, levou outra pia a tomar o lugar da primeira e fora da sua capela original – pois alevá...

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Solares de Portugal.

Uma sugestão de férias com bom gosto, requinte, cultura e tradição.

terça-feira, 14 de abril de 2009

A bela casa de cima - I

De "Viagens no Tempo", de Bento Sampaio:

E, quando voltou, deu-lhe uma volta completa que fez da velha casa o que está à vista – janelas bordadas de fantasias.
Pouca coisa acima da casa da Gusmoa, aí a meio caminho da igreja e das Alminhas, lá está ainda a bonita casa de cima, ficando-lhe defronte a casa de baixo, onde nasci e me criei, nossa que é, digamos, na família ficou.
Ouvi a alguém, ou talvez de mim mesmo – confesso que já nem sei – que as casas são o berço da gente, e verdade é este sentimento que trago apertado, ou seja, o apego a três casas que me acompanharam no devaneio infantil de nelas fazer ninho.
A desafogada empena da casa de cima, altiva, duas varandas geminadas empoleiradas no seu topo, o balcão de arcada a ela achegado, o grande pátio de lidas de lavoura, tudo nela era largueza que muito me enchiam os olhos, “Marianinha, aquela é velha, é verdade, mas tem duas estufas…”, convencia meu avô a sua mulher pequenina que lhe havia de ficar atrás, na sua desanda para a Califórnia, e continuava ele num derriço de ideias, “assim, ficais prevenida, mulher…”, com os ananases em demanda da Europa.
Ela, a minha avó Mariana Augusta, o corpo miúdo, anuiu apertando aquele mimo a medrar de consolo dentro de si, “se assim julgais…”, e ala meu avô Chico de acertar-se na permuta com o casal de cunhados solteiros, e de se sumir por dezoito anos no desatino de fortuna, “quando voltar, hei-de dar-lhe outro jeito…” – partiu com a promessa…
Não era homem que se ficava em meras juras, isso nunca! Era uma criatura decidida. E, quando voltou, deu-lhe uma volta completa que fez da velha casa o que está à vista – janelas bordadas de fantasias.
Mas a entrada lateral não lhe descobria meu avô o modo de a lançar com elegância arquitectónica, “Joãozinho, vê se me resolves isso”, disse a meu pai, já as férias grandes chegavam ao fim.
Algum tempo depois, mandava ele de Santarém o desenho, à escala, de como seria. E a carta, “papá, a escada deverá ser com degraus de pedra aparelhada com o bordo do passo arredondado”.
Assim corria a escada de dois lances em L numa subida suave para a casa – o de cima bem mais curto que o de baixo –, dando para um balcão de meia tarde para se lhe entrar num hall bem luminoso – coisa primorosa.
Mas as voltas são muitas e a casa foi parar, e bem, à Igreja, para lá receber as Irmãs que ainda cuidam dos meninos da Ponta Garça.
E aí entra o génio iluminado de alguém – certamente que não foi o arquitecto que a requalificou, e isso afianço – que entendeu dar-lhe um outro giro que foi empinar num só lance uma escada com degraus de cimento, e os de pedra aparelhada com o bordo do passo arredondado, sumiram-se no entulho das obras de requalificação, ou…
E pior: foi-se o mimoso balcão de meia tarde. Pronto, esta é a reposição correcta do que, porventura, algum dia – e eu já estiver aparelhado sem fala… – alguém se dispuser, “como era então?”.
Adiante, que a bela casa de cima servia de primeira escapadela segura de me pôr porta fora, cruzando apenas o nosso caminho; e eu corria escada abaixo, “toma sentido menino…”, prevenia minha mãe do alto da escada, e para quê, se nem automóvel nem camioneta passava todo o santíssimo dia – só o burro do João manco, zurrando e mulheres e vendilhões de peixe sempre discutindo – “papá, vamos almoçar?”, e ele beijava-me, pegando-me no colo, feliz, “atravessaste sozinho o nosso caminho…”.
Diz-se que não há caminho mais seguro na vida do que encher os olhos em terra quanta a vejas e casa quanta tenhas, o que no caso ia muito para lá do básico e necessário.
É que se assim não fosse, que seria da nossa sereníssima casa de baixo, vestida de cantarias, que a nós todos viu crescer, e do seu vistoso balcão nas traseiras sobranceiro ao mar; do lustroso paço dos Botelhos da Senhora da Vida; a do solteirão e nosso parente Horácio Pimentel, desapegada de outras, de porta e janelas redondas em fina cantaria; da linda casa de António Elias; do gracioso balcão em arcada e sua cocheira e também o desaparecido óculo de entrada da casa de meus sogros; a placidez de linhas da casa da Adriana; a ermida da Senhora das Mercês, a tal jóia barroca; dos balcões com senhoras em tais conversas de meia tarde; de estrebarias albergando charabãs cansados de festas e arraiais; oh, e dos portões, franqueando o fora-e-dentro de seus amos; e outros tantos brindes que os nossos nos legaram?
Se tal não fora a vontade de erguer património na minha Ponta Garça, pouco mais do que casa sim, casa não, de porta e janela, teria hoje a gente para admirar.
Ah, mas ainda se têm vizinhas demorando-se num cochicho pegado – que gostoso viver é o de gente boa da minha linda terra.
Ficam-me, já se vê, mais coisas para se contar da bela casa de cima com janelas bordadas de fantasias...

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Manhã de Páscoa.

Desde a manhã de Páscoa, e enquanto Verão houver, cheira a festa na nossa terra.
Os festivos acordes que rasgam a manhã; a frescura das flores na rua; a solenidade das colchas nas janelas; a fraternidade das mesas postas nas ruas ou nas casas; o branco das crianças em coroações ou o vermelho dos homens em procissões; as bandeiras que enfeitam o dia ou as luzes que festejam a noite; os impérios engalanados ou as Igrejas ornamentadas a preceito; Coros, Irmandades, Mordomias ou Comissões de festas; vozes açoreanas marcadas pelo timbre da diáspora: um Povo em Festa.
Os Açores. Isto sim são eles próprios.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

A Cruz, sinal de Vitória.

Celebrar a Páscoa é viver a vitória da vida, cuja salvação da humanidade tem no madeiro da cruz a primeira testemunha. A cruz é, por isso, o símbolo típico do cristianismo, não tanto pelo sofrimento que nela foi infligido, mas sobretudo pela maravilha da salvação, da qual foi instrumento.
É, assim, e antes de mais, sinal de fé. Entre nós, sinal da fé de quase todos os açoreanos e até mesmo de quase todos os portugueses, praticantes ou não.
Mas é também sinal da nossa própria identidade histórica. A cruz é parte integrante e substancial dos nossos usos e costumes, da nossa própria paisagem edificada, das várias formas pelas quais se expressa a arte e até das nossas vivências.
Para poder apagá-la da nossa história seria necessário apagar grande parte da cultura do nosso país e privá-lo de uma característica essencial da sua identidade.
A cruz está estacada na História do homem e do mundo.
Mesmo assim, ignora-se, ou finge-se ignorar, que é a cruz o primeiro e o maior símbolo da libertação do homem.
O laicismo já tem anos suficientes para atingir a sua maturidade. O fundamentalismo anti-confessional deve dar lugar a uma postura aconfessional que, nem por isso, ignore ou hostilize o facto religioso e os seus valores.
Ostentar publicamente a cruz é exprimir a convicção de que todos os homens são iguais e irmãos uns dos outros, crentes e não crentes, judeus e pagãos, negros e brancos.
Cravar no seio do mundo contemporâneo o milenar símbolo da vitória é lembrar aos homens que a razão e o fim da nossa existência é a prática da solidariedade e o amor ao próximo.
Visto assim, dificilmente encontraremos outro sinal que, com tanta força, exprima o valor daqueles que nos rodeiam. Haverá nisso mal?
Uma Santa Páscoa.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Semana Santa.

Miserere mei, Deus, secundum magnam misericordiam tuam.
Et secundum multitudinem miserationum tuarum, dele iniquiatatem meam.
Amplius lava me ab iniquitate mea: et peccatto meo munda me.
Quoniam iniquitatem meam ego cognosco: et peccatum meum contra me est semper.
Tibi soli peccavi, et malum coram te feci: ut justificeris in sermonibus tuis, et vincas cum judicaris.
Ecce enim in inquitatibus conceptus sum: et in peccatis concepit me mater mea.
Ecce enim veritatem dilexisti: incerta et occulta sapientiae tuae manifesti mihi.
Asperges me, Domine, hyssopo, et mundabor: lavabis me, et super nivem dealbabor.
Auditui meo dabis gaudium st laetitiam: et exsultabunt ossa humiliata.
Averte faciem tuam a peccatis meis: et omnes iniquitates meas dele.
Cor mundum crea in me, Deus: et spiritum rectum innova in visceribus meis.
Ne projicias me a facie tua: et spiritum sanctum tuum ne auferas a me.
Redde mihi laetitiam salutaris tui: et spiritu principali confirma me.
Docebo iniquos vias tuas: et implii ad te convertentur.
Libera me de sanguinibus, Deus, Deus salutis meae: et exsultabit lingua mea justitiam tuam.
Domine, labia mea aperies: et os meum annuntiabit laudem tuam.
Quoniam si voluisses sacrificium, dedissem utique: holocasutis non delectaberis.
Sacraficium Deo spiritus contribulatus: cor contritum, et humiliatum, Deus, non despicies.
Benigne fac, Domine, in bona voluntate tua Sion: ut aedificentur muri Jerusalem.
Tunc acceptabis sacrificium justitiae, oblantiones, et holocausta: tunc imponent super altare tuum virtulos.
Gloria Parti, Filio, et Spiritus Sancto.
Sicut erat in principo, et nunc et semper, et in saecula saeculorum. Amen.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Uma Encíclica sempre actual.

CARTA ENCÍCLICA DO SUMO PONTÍFICE S. PIO X, PASCENDI DOMINICI GREGIS
Aos Patriarcas, Primazes, Arcebispos, Bispos e outros Ordinários em paz e comunhão com a Sé Apostólica,

Veneráveis Irmãos, saúde e benção apostólica,

A missão, que nos foi divinamente confiada, de apascentar o rebanho do Senhor, entre os principais deveres impostos por Cristo, conta o de guardar com todo o desvelo o depósito da fé transmitida aos Santos, repudiando as profanas novidades de palavras e as oposições de uma ciência enganadora. E, na verdade, esta providência do Supremo Pastor foi em todo o tempo necessária à Igreja Católica; porquanto, devido ao inimigo do género humano nunca faltaram homens de perverso dizer (At 20,30), vaníloquos e sedutores (Tit 1,10), que caídos eles em erro arrastam os mais ao erro (2 Tim 3,13). Contudo, há mister confessar que nestes últimos tempos cresceu sobremaneira o número dos inimigos da Cruz de Cristo, os quais, com artifícios de todo ardilosos, se esforçam por baldar a virtude vivificante da Igreja e solapar pelos alicerces, se dado lhes fosse, o mesmo reino de Jesus Cristo.
Por isto já não Nos é lícito calar para não parecer faltarmos ao Nosso santíssimo dever, e para que se Nos não acuse de descuido de nossa obrigação, a benignidade de que, na esperança de melhores disposições, até agora usamos. E o que exige que sem demora falemos, é antes de tudo que os proclamadores do erro já não devem ser procurados entre inimigos declarados; mas, o que é muito para sentir e recear, se ocultam no próprio seio da Igreja, tornando-se destarte tanto mais nocivos quanto menos percebidos.
Aludimos, Veneráveis Irmãos, a muitos membros do laicato católico e também, coisa ainda mais para lastimar, a não poucos do clero que, fingindo amor à Igreja e sem nenhum sólido conhecimento de filosofia e teologia, mas, embebidos antes das teorias envenenadas dos inimigos da Igreja, blasfemam, postergando todo o comedimento, de reformadores da mesma Igreja; e, cerrando ousadamente fileiras, se atiram sobre tudo o que há de mais santo na obra de Cristo, sem pouparem sequer a mesma pessoa do divino Redentor que, com audácia sacrílega, rebaixam à craveira de um puro e simples homem.
Pasmem, embora homens de tal casta, que Nós os ponhamos no número dos inimigos da Igreja; não poderá, porém, pasmar com razão quem quer que, postas de lado as intenções de que só Deus é juiz, se aplique a examinar as doutrinas e o modo de falar e de agir de que lançam eles mão. Não se afastará, portanto, da verdade quem os tiver como os mais perigosos inimigos da Igreja. Estes, em verdade, como dissemos, não já fora, mas dentro da Igreja, tramam os seus perniciosos conselhos; e por isto, é por assim dizer nas próprias veias e entranhas dela que se acha o perigo, tanto mais ruinoso quanto mais intimamente eles a conhecem. Além de que, não sobre as ramagens e os brotos, mas sobre as mesmas raízes que são a Fé e suas fibras mais vitais, é que meneiam eles o machado.
Batida pois esta raiz da imortalidade, continuam a derramar o vírus por toda a árvore, de sorte que coisa alguma poupam da verdade católica, nenhuma verdade há que não intentem contaminar. E ainda vão mais longe; pois pondo em obra o sem número de seus maléficos ardis, não há quem os vença em manhas e astúcias: porquanto fazem promiscuamente o papel ora de racionalistas, ora de católicos, e isto com tal dissimulação que arrastam sem dificuldade ao erro qualquer incauto; e, sendo ousados como os que mais o são, não há conseqüências de que se amedrontem e que não aceitem com obstinação e sem escrúpulos. Acrescente-se-lhes ainda, coisa aptíssima para enganar o ânimo alheio, uma operosidade incansável, uma assídua e vigorosa aplicação a todo o ramo de estudos e, o mais das vezes, a fama de uma vida austera. Finalmente, e é isto o que faz desvanecer toda esperança de cura, pelas suas mesmas doutrinas são formadas numa escola de desprezo a toda autoridade e a todo freio; e, confiados numa consciência falsa, persuadem-se de que é amor da verdade o que não passa de soberba e obstinação. Na verdade, por algum tempo esperamos reconduzi-los a melhores sentimentos e, para este fim, a princípio os tratamos com brandura, em seguida com severidade e, finalmente, bem a contragosto, servimo-nos de penas públicas.Mas vós bem sabeis, Veneráveis Irmãos, como tudo foi debalde; pareceram por momento curvar a fronte, para depois reerguê-la com maior altivez. Poderíamos talvez ainda deixar isto desapercebido se tratasse somente deles; trata-se porém das garantias do nome católico.
Há, pois, mister quebrar o silêncio, que ora seria culpável, para tornar bem conhecidas à Igreja esses homens tão mal disfarçados.
E visto que os modernistas (tal é o nome com que vulgarmente e com razão são chamados) com astuciosíssimo engano costumam apresentar a suas doutrinas não coordenadas e juntas como um todo, mas dispersas e como separadas umas das outras, a fim de serem tidos por duvidosos e incertos, ao passo que, de facto, estão firmes e constantes, convém, Veneráveis Irmãos, primeiro exibirmos aqui as mesmas doutrinas em um só quadro, e mostrar-lhes o nexo com que formam entre si um só corpo, para depois indagarmos as causas dos erros e prescrevermos os remédios para debelar-lhes os efeitos perniciosos.

terça-feira, 7 de abril de 2009

A crise segundo Einstein.

"Não pretendemos que as coisas mudem, se sempre fazemos o mesmo. A crise é a melhor bênção que pode ocorrer com as pessoas e países, porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da angústia, como o dia nasce da noite escura. É na crise que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise, supera-se a si mesmo sem ficar superado. Quem atribui à crise os seus fracassos e penúrias, viola o seu próprio talento e respeita mais aos problemas do que às soluções. A verdadeira crise é a crise da incompetência. O inconveniente das pessoas e dos países é a esperança de encontrar as saídas e soluções fáceis. Sem crise não há desafios, sem desafios, a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crise não há mérito. É na crise que se aflora o melhor de cada um. Falar de crise é promovê-la, e calar-se sobre ela é exaltar o conformismo. Em vez disso, trabalhemos duro. Acabemos de uma vez com a única crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la."

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Numa noite tempestuosa*

A vida vale pouco – tudo mente
É breve a infância e curta a mocidade
Gasta-se o tempo em busca da verdade
Que tanto esmaga e dilacera a gente.

É sempre mais feliz quem menos sente
Quem de ter valor se persuade
No coração humano há só vaidade
E quem a satisfaz vive contente.

Por isso te amo tanto, oh! Natureza
Linda, potente, majestosa e forte
Sempre nova na graça e na beleza.

Ser venturosa não me coube em sorte
Mas do teu esplendor minh’alma presa
Só por mais te não ver me custa a morte!

Amélia Janny
(1841- 1914)
*Sem título, mas escrito numa noite tempestuosa
Enviado por JBS

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Em Dia Mundial da Juventude.

Decorre Domingo, em Vila Franca do Campo, o encontro de Ilha do Dia Mundial da Juventude. Em ano paulino, aqui fica o nosso modesto contributo ao habitual Festival da Canção, interpretado pelos jovens do edílico lugar da Várzea:
"Para mim viver é Cristo,
Para mim viver é Cristo.
É Cristo. É Cristo.
É Cristo. Jesus Cristo é meu viver.

Num mundo que esquece Raízes antigas,
Num mundo que apaga Valores Eternos,
Eu creio em Cristo, eu amo a Verdade
E sou mensageiro da Eternidade.

Entre gente frágil com medo da fé,
Entre falsas fés com vergonha de si,
Eu vou anunciar a Salvação,
Eu quero gritar: eu sou Cristão!

Tanta gente triste e o mundo com pressa,
Homens que sofrem e ninguém tem tempo,
Eu amo a Vida, em cada dia
Cristo em mim vive: eu levo a alegria."

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O exemplo britânico.

Os pais dos alunos com comportamentos violentos nas escolas britânicas vão passar a ser multados num valor que pode ir até aos 1450 euros. 'As intimidações verbais e físicas não podem continuar a ser toleradas nas nossas escolas, seja quais forem as motivações' sublinhou a Secretária de Estado para as Escolas. Disse também que ' as crianças têm de distinguir o bem e o mal e saber que haverá consequências se ultrapassarem a fronteira'. Acrescentou ainda que 'vão reforçar a autoridade dos professores, dando-lhes confiança e apoio para que tomem atitudes firmes face a todas as formas de má conduta por parte dos alunos'. A governante garantiu que 'as novas regras transmitem aos pais uma mensagem bem clara para que percebam que a escola não vai tolerar que eles não assumam as suas responsabilidades em caso de comportamento violento dos seus filhos. Estas medidas serão sustentadas em ordens judiciais para que assumam os seus deveres de pais e em cursos de educação para os pais, com multas que podem chegar às mil libras se não cumprirem as decisões dos tribunais'. O Livro Branco dá ainda aos professores um direito 'claro' de submeter os alunos à disciplina e de usar a força de modo razoável para a obter, se necessário.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

"No um de Abril vão os burros onde não devem ir."

Assim conta o ditado, o qual nos lembra a tradição do 1 de Abril, chamado o dia das mentiras. Antigamente, em França, era o ano novo celebrado por agora, com a chegada da Primavera e até ao dia 1 de Abril, mas, em 1564, com a adopção do calendário gregoriano, o ano novo passou a celebrar-se a 1 de Janeiro. Nem todos o aceitaram de bom gosto, mantendo o costume pagão. Ora, nesse tempo em que a cristandade tinha orgulho de si própria e sentido de humor, logo começaram alguns a inventar festas "fantasma" e convidar para moradas que não existiam ou para casas cujas famílias nem estavam prevenidas para tal, pregando assim divertidas (e merecidas) partidas aos paganistas de então.