Na sua linguagem ancestral, uma das mais belas cadências dos sinos é o seu toque de dobre, o qual, em terra lusitana, do alto das torres das catedrais ou do cimo dos campanários de recônditas aldeias, é o toque de Finados: o choro dos sinos por aqueles que partiram desta vida.
É extraordinário como, do mesmo instrumento e do conjunto dos mesmos timbres e tons, tanto se enche o som da mais profunda tristeza, como, em dia de repique, se anuncia alegria, vida e Ressurreição. Apenas pela diferença de ritmo ou, talvez mais importante, pela diferente simbologia com que cada toque envolve o nosso espírito, que os tem imbuídos na nossa própria identidade.
Assim é por estes dias...
Após festejarmos os Santos com indubitável alegria, lembramos os nossos que partiram, que nos transmitiram o que somos e O que cremos, pedindo por eles e para que possam estar em situação próxima dos festejados.
Há quem fuja de tristezas. Mas, quase por azar, vão-lhes, mesmo assim, bater à porta.
Há quem encare a vida com alegria. Destes, são as tristezas que, naturalmente, lhes fogem, porque em tudo o que lhes chega conseguem descobrir ponta de alegria e de esperança.
Ora, para quem se se enquadra nestes últimos, quão grande é a beleza desse encontro entre os que estão e os que partiram: cadenciado pela gravidade dos sinos que choram sem silêncio; decorado pelo pesado preto que não precisa de côr para se impor aos olhos cansados de banalidades; interiorizado no íntimo das almas que conseguem admitir em si a pequenez humana com que duvidam do Divino; amarrado a notas largas que timbram vozes suplicantes em ardente Requiem: Libera me domine de morte aeterna...
Outros preferem esconder-se da realidade da Vida.
E, quanto mais se escondem, menos descobrem a Alegria...
1 comentário:
E é verdade.
Os sinos têm essa magia de ir ao encontro dos nossos sentimentos. Neste mês de acenatmos aos nossos, peçamos, neste dia de finados, a intercessão dos sntos para que as benditas almas do Purgatório possam lograr um alívio, almejando um descanso merecido.
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