segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O Regresso da Liturgia...

In The New York Times
Por Kenneth J. Wolfe

AO ENTRAR na igreja há 40 anos atrás muitos católicos romanos talvez tenham se indagado onde estavam. O sacerdote não somente falava em inglês ao invés de latim, mas também estava voltado para os fiéis e não para o sacrário; os leigos assumiam os deveres anteriormente reservados aos sacerdotes; a música popular enchia o ar. As grandes mudanças do Vaticano II haviam chegado a casa.
Tudo isso foi uma ruptura radical da Missa Tradicional em Latim, codificada no XVI século, do Concílio de Trento. Durante séculos a Missa servia como um sacrifício estruturado com diretrizes, chamadas “rubricas” que não eram opcionais. É assim que a coisa é feita, dizia o livro. Tão recentemente quanto 1947, o Papa Pio XII havia emitido uma encíclica sobre liturgia que zombava da modernização. Ele dizia que a ideia de mudanças à Missa Tradicional em Latim lhe “afligia dolorosamente”.
Paradoxalmente, entretanto, foi o próprio Pio [XII] o grande responsável pelas mudanças significativas de 1969. Foi ele que nomeou o arquiteto chefe da Missa nova, Aníbal Bugnini, para a comissão de liturgia do Vaticano, em 1948.
Bugnini nasceu em 1912 e foi ordenado sacerdote vicentino em 1936. Embora Bugnini mal tivesse uma década de trabalho em paróquia, Pio XII constituiu-o secretário para a Comissão da Reforma Litúrgica. Nos anos 1950, Bugnini conduziu uma grande revisão das liturgias da Semana Santa
O papa seguinte, João XXIII, nomeou Bugnini secretário para a Comissão Preparatória para a Liturgia do Vaticano II, cargo no qual ele trabalhou com clérigos católicos e, surpreendentemente, alguns ministros protestantes nas reformas litúrgicas. Em 1962 ele escreveu qual viria a ser a Constituição sobre a Sagrada Liturgia, o documento que deu a forma da Missa nova.
Muitas das reformas de Bugnini objectivaram agradar aos não católicos, e foram feitas alterações imitando cultos protestantes, incluindo a colocação de altares virados para o povo, em vez de um sacrifício em direção ao oriente litúrgico. Como ele afirmou, “precisamos tirar da nossa liturgia católica tudo o que possa constituir a sombra de uma pedra de tropeço para os nossos irmãos separados, ou seja, para os protestantes.” (Paradoxalmente, os anglicanos que se unirão à Igreja Católica em razão da mão estendida do papa actual usarão a liturgia que sempre apresenta o sacerdote voltado na mesma direção da assembleia).
Como foi que Bugnini foi capaz de fazer mudanças tão avassaladoras? Em parte porque nenhum dos papas a quem ele serviu eram liturgistas. Bugnini modificou tantas coisas que o sucessor de João, Paulo VI, algumas vezes, não sabia das últimas diretrizes. Certa vez o papa questionou as vestes que sua equipe lhe havia designado, dizendo que elas eram da cor errada, somente para ouvir que ele havia eliminado a celebração de Pentecostes com duração de uma semana e que não podia vestir os respectivos trajes vermelhos para a Missa. O mestre de cerimónias do papa à época assistiu Paulo VI a debulhar-se em lágrimas.
Bugnini caiu da graça nos anos 70. Rumores espalharam-se na imprensa italiana de que ele era maçom, que, caso seja verdade, teria merecido a excomunhão. O Vaticano nunca negou as queixas, e em 1976 Bugnini, que naquela época era um arcebispo, foi exilado para um cargo formal no Irã. Ele faleceu no esquecimento, em 1982.
Mas o seu legado sobreviveu. O Papa João Paulo II continuou as liberalizações da Missa, permitindo que mulheres actuassem no lugar de acólitos e permitiu que homens e mulheres não ordenados distribuíssem a comunhão nas mãos de fiéis de pé. Mesmo organizações conservadores como a Opus Dei adoptaram as reformas da liturgia liberal.
Porém, Bugnini poderá ter finalmente encontrado o seu antagonista à altura em Bento XVI, ele mesmo um renomado liturgista que não é fã dos últimos 40 anos de alterações. Cantar em latim, vestir trajes antigos e distribuir a comunhão somente nas línguas (em vez das mãos) de católicos ajoelhados, lentamente Bento reverteu as inovações de seus predecessores. E a Missa em Latim está de volta, pelo menos, de maneira limitada, em locais como Arlington, Va., onde uma em cada cinco paróquias oferecem a liturgia antiga.
Bento compreende que os seus jovens padres e seminaristas – a maioria nascida depois do Vaticano II – estão ajudando a conduzir uma contra-revolução. Eles apreciam a beleza da Missa solene e o seu respectivo canto, incenso e cerimónia. Sacerdotes de batina e freiras de hábito podem ser vistas novamente; sociedades tradicionalistas como o Instituto Cristo Rei estão se expandindo.
No início desta década, Bento (então Cardeal Joseph Ratzinger) escreveu: “O facto do sacerdote se voltar para as pessoas fez com que a comunidade se transformasse num círculo fechado. Em sua forma externa, ela não mais se abre para o que está acima, mas está fechada em si mesma.” Ele estava certo: 40 anos de Missa nova trouxeram o caos e a banalidade no sinal mais visível e externo da igreja. Bento XVI quer um retorno à ordem e ao sentido. Assim, ao que parece, a próxima geração de católicos faz a mesma coisa.

1 comentário:

Gisela Gusmão disse...

Aí está doutrina para os opinadores sem formação... para que se formem e esqueçam as opiniões!