No rescaldo da grande Festa de Baptismo, aqui fica um poético artigo, do conhecido avô, João Bento Sampaio.
"Foi então que outra luz, outra amenidade, uma calma desusada me inundou a mente – “será?...”
Vagueava eu no emaranhado de galáxias, esgueirando-me lesto pelo diáfano plasma, fugindo dum buraco negro, pudera; andava mesmo desgarrado de mim, das coisas, das gentes, do mundo, num alheamento de quem a vida nem sempre lhe sorri como desejaria – trrin-trrin – pareceu-me ouvir o telefone, e acordei noite alta, ia a lua cheia no seu passeio, levava um ar de menina radiosa num sonho todo feito de incerteza.
Apressado e ansioso com aquele súbito trrin-trrin, agarrei-o e ninguém se alardeava na outra ponta da linha. Bem, voltei ao conchego ainda quente, “será?...”, mas não, no visor não se mostrava mesmo vivalma.
Mas o sonho... Não era aquela banalidade de mais um remexer de criança inquieta por crescer – “será?...”. Não era esse devaneio de nocturna e indizível ansiedade, tão-pouco de tristeza; era uma outra suavidade, era um lindo sonho de bambino – a criança que teima em brincar dentro de nós, que duas vezes somos meninos, nunca crescemos – nem o ardor banal da mocidade parecia ser.
E que coisa mais bela era a sensação de voltar a enredar-me naquele desatino de criança – uma ventura, feita só de perdão, só de ternura – , e alinhavei as ideias ainda misturadas em cadinho, que derramava a bonança calma e prateada da lua cheia, já a perder-se para a madrugada – “será?...”.
Foi então que outra luz, outra amenidade, uma calma desusada me inundou a mente – “será?...”. E levantei-me de vez. É que aquela brandura de felicidade, a alvorada que adolescia límpida num céu tão generoso quanto o desejo de uma criança feliz, tudo eram de verdade coisas raras, tão escassas que até nem sei se as há na natureza.
Dei comigo agora tão agarrado a mim, às coisas belas tecidas pelas gentes, ao mundo novo que vamos urdindo num convencimento de quem a vida sempre lhe pode sorrir como se deseja.
E outro destino o da paz da nossa hora derradeira soou suave – “será?...”. Um novo trrin-trrin voltara novamente, “é ele!”, e aquele alvor promissor mexeu comigo – um encantamento de arrebatar.
Rasgara-se a Natureza num primor ímpar... e encheu-se a terra inteira de esplendor, enfeitando-se de requintes inestimáveis: um outro Menino, cruzando milhentas galáxias, dera-lhes um toque distinto – “papá, o João vai nascer!”.
E pensei, babado, já se vê... – nesta 2ª feira 15 de Dezembro – “que linda prenda de Natal! Oh, que rico menino será o meu terceiro neto...”
"Foi então que outra luz, outra amenidade, uma calma desusada me inundou a mente – “será?...”
Vagueava eu no emaranhado de galáxias, esgueirando-me lesto pelo diáfano plasma, fugindo dum buraco negro, pudera; andava mesmo desgarrado de mim, das coisas, das gentes, do mundo, num alheamento de quem a vida nem sempre lhe sorri como desejaria – trrin-trrin – pareceu-me ouvir o telefone, e acordei noite alta, ia a lua cheia no seu passeio, levava um ar de menina radiosa num sonho todo feito de incerteza.
Apressado e ansioso com aquele súbito trrin-trrin, agarrei-o e ninguém se alardeava na outra ponta da linha. Bem, voltei ao conchego ainda quente, “será?...”, mas não, no visor não se mostrava mesmo vivalma.
Mas o sonho... Não era aquela banalidade de mais um remexer de criança inquieta por crescer – “será?...”. Não era esse devaneio de nocturna e indizível ansiedade, tão-pouco de tristeza; era uma outra suavidade, era um lindo sonho de bambino – a criança que teima em brincar dentro de nós, que duas vezes somos meninos, nunca crescemos – nem o ardor banal da mocidade parecia ser.
E que coisa mais bela era a sensação de voltar a enredar-me naquele desatino de criança – uma ventura, feita só de perdão, só de ternura – , e alinhavei as ideias ainda misturadas em cadinho, que derramava a bonança calma e prateada da lua cheia, já a perder-se para a madrugada – “será?...”.
Foi então que outra luz, outra amenidade, uma calma desusada me inundou a mente – “será?...”. E levantei-me de vez. É que aquela brandura de felicidade, a alvorada que adolescia límpida num céu tão generoso quanto o desejo de uma criança feliz, tudo eram de verdade coisas raras, tão escassas que até nem sei se as há na natureza.
Dei comigo agora tão agarrado a mim, às coisas belas tecidas pelas gentes, ao mundo novo que vamos urdindo num convencimento de quem a vida sempre lhe pode sorrir como se deseja.
E outro destino o da paz da nossa hora derradeira soou suave – “será?...”. Um novo trrin-trrin voltara novamente, “é ele!”, e aquele alvor promissor mexeu comigo – um encantamento de arrebatar.
Rasgara-se a Natureza num primor ímpar... e encheu-se a terra inteira de esplendor, enfeitando-se de requintes inestimáveis: um outro Menino, cruzando milhentas galáxias, dera-lhes um toque distinto – “papá, o João vai nascer!”.
E pensei, babado, já se vê... – nesta 2ª feira 15 de Dezembro – “que linda prenda de Natal! Oh, que rico menino será o meu terceiro neto...”
1 comentário:
É verdade que ninguém é juíz em cuasa próprria. O meu terceiro neto não é mais lindo que todos os outros milhões de milhões de meninos. Cuidem bem dos vossos meninos. Cá por mim, faço a minha diligência
Enviar um comentário