segunda-feira, 6 de julho de 2009

Que rico menino...

No rescaldo da grande Festa de Baptismo, aqui fica um poético artigo, do conhecido avô, João Bento Sampaio.

"Foi então que outra luz, outra amenidade, uma calma desusada me inundou a mente – “será?...”

Vagueava eu no emaranhado de galáxias, esgueirando-me lesto pelo diáfano plasma, fugindo dum buraco negro, pudera; andava mesmo desgarrado de mim, das coisas, das gentes, do mundo, num alheamento de quem a vida nem sempre lhe sorri como desejaria – trrin-trrin – pareceu-me ouvir o telefone, e acordei noite alta, ia a lua cheia no seu passeio, levava um ar de menina radiosa num sonho todo feito de incerteza.
Apressado e ansioso com aquele súbito trrin-trrin, agarrei-o e ninguém se alardeava na outra ponta da linha. Bem, voltei ao conchego ainda quente, “será?...”, mas não, no visor não se mostrava mesmo vivalma.
Mas o sonho... Não era aquela banalidade de mais um remexer de criança inquieta por crescer – “será?...”. Não era esse devaneio de nocturna e indizível ansiedade, tão-pouco de tristeza; era uma outra suavidade, era um lindo sonho de bambino – a criança que teima em brincar dentro de nós, que duas vezes somos meninos, nunca crescemos – nem o ardor banal da mocidade parecia ser.
E que coisa mais bela era a sensação de voltar a enredar-me naquele desatino de criança – uma ventura, feita só de perdão, só de ternura – , e alinhavei as ideias ainda misturadas em cadinho, que derramava a bonança calma e prateada da lua cheia, já a perder-se para a madrugada – “será?...”.
Foi então que outra luz, outra amenidade, uma calma desusada me inundou a mente – “será?...”. E levantei-me de vez. É que aquela brandura de felicidade, a alvorada que adolescia límpida num céu tão generoso quanto o desejo de uma criança feliz, tudo eram de verdade coisas raras, tão escassas que até nem sei se as há na natureza.
Dei comigo agora tão agarrado a mim, às coisas belas tecidas pelas gentes, ao mundo novo que vamos urdindo num convencimento de quem a vida sempre lhe pode sorrir como se deseja.
E outro destino o da paz da nossa hora derradeira soou suave – “será?...”. Um novo trrin-trrin voltara novamente, “é ele!”, e aquele alvor promissor mexeu comigo – um encantamento de arrebatar.
Rasgara-se a Natureza num primor ímpar... e encheu-se a terra inteira de esplendor, enfeitando-se de requintes inestimáveis: um outro Menino, cruzando milhentas galáxias, dera-lhes um toque distinto – “papá, o João vai nascer!”.
E pensei, babado, já se vê... – nesta 2ª feira 15 de Dezembro – “que linda prenda de Natal! Oh, que rico menino será o meu terceiro neto...”

1 comentário:

JBS disse...

É verdade que ninguém é juíz em cuasa próprria. O meu terceiro neto não é mais lindo que todos os outros milhões de milhões de meninos. Cuidem bem dos vossos meninos. Cá por mim, faço a minha diligência