segunda-feira, 1 de março de 2010

Ramalho Ortigão o escreveu...

Pobres homens, mais dignos de piedade que de rancor os que imaginam que é com um carapuço frígio, talhado à pressa em pano verde e vermelho, manchado no lodo de uma revolta num bairro de Lisboa, que mais dignamente se pode coroar a veneranda cabeça de uma pátria em que se geraram tantos grandes homens, a cuja memória imperecível, e não aos nossos mesquinhos feitos de hoje em dia, devemos ainda os últimos restos de consideração a pudemos aspirar no mundo! Pobre gente! Pobre pátria!
(…)
Tais resultados, que eu acho melhor encarar pelo lado cómico, que pelo lado trágico, demonstram, com a evidência científica de uma operação química, que a experiência política da Rotunda prolongada até hoje não está deixando, no fundo das retortas, senão indisciplina, desordem, deseducação, desnacionalização, imoralidade, irreligião, empobrecimento, charlatanismo, cabotinismo e miséria.
Evaporada a infantil e burlesca ilusão de que um país pode continuar a viver, como vive uma minhoca em postas, uma vez esquartejado nas suas tradições, nas suas crenças, nos seus usos e costumes, na continuidade da sua experiência histórica, governado por um pessoal improvisado pelo favoritismo político, com uma instrução pública de pedantes, uma religião de ateus, uma polícia de sicários, uma maioria parlamentar de ineptos, um ministério de energúmenos, uma burocracia de vagabundos e uma diplomacia de curiosos, da qual só é dado esperar através das chancelarias e dos salões da Europa a mais estercoraria pingadeira de "gaffes".

2 comentários:

Gisela Gusmão disse...

Diz o povo que os arrependidos vão para o céu...
Pois este senhor pertenceu à Geração de 70, grupo de apoiantes da República, mas o que viu não lhe agradou, ele que, até, sempre foi diferente dos que depois se auto-intitularam Vencidos da Vida, designação que a Ramalho não se aplica, portanto. E basta ler o texto em causa.

JBS disse...

Não digo que nos faltam homens como esse gigante do Ramalho.
Ao invés, temos em demasia uma corja de intelectuais, luzindo de brilhantina, a cabeça enredada de areia solta, que nem consegue sedimenta-se, pois cimento não topa em toda a nervura da mesquinhez de só urdir uma arrogante vontade de valorizar a vistosa futilidade.
Pois alevá...