segunda-feira, 17 de maio de 2010

A Festa da Santíssima Trindade na Rua do Frias

Em 11 de Junho de 2006, Ano Pastoral do Domingo, dia do Senhor, relembrando aos cristãos a sua importância no encontro com Deus, com a família e com a comunidade, enquanto dia de júbilo e de vida, foi restaurada, no Domingo da Santíssima Trindade, a Festa em honra do Divino Espírito Santo da Matriz de Ponta Delgada, na Rua do Frias, aberta a toda a comunidade de São Sebastião.
Procurando cingir-se ao coração da Festa, o Espírito Santo, dela consta a oração do terço desde o Domingo de Pentecostes, dia em que a imponente Coroa, que se encontra na nossa Igreja, que outrora pertenceu ao chamado “Império dos Nobres”, o Império do centro desta cidade, é trazida para casa dos Mordomos que a recebem, ornamentam e veneram.
No Domingo da Trindade, após na véspera terem sido benzidas a carne, o pão, a massa e o arroz doce que servirão a partilha do almoço comunitário, saem as Insígnias do Divino Espírito Santo em cortejo processional até à Igreja Matriz, participando na Missa Solene do Meio-Dia, onde é coroada uma criança, nesse tão simbólico rito introduzido em Portugal por D. Dinis e pela Rainha Santa Isabel.
Regressando em Festa, a tarde é para as Sopas do Espírito Santo, em mesa corrida na Rua, aberta a todos, partilhando assim o trabalho e a oferta de muitos…
Anos após ano, as pessoas têm primado pela participação, num momento anual de encontro de vizinhanças, primando em ornamentações que dignificam a veneração à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, tão querida dos açoreanos.
As festas do Espírito Santo na ilha de São Miguel tiveram início com o terramoto de 1522 que arrasou Vila Franca do Campo e, por virtude da epidemia de 1673, o povo micaelense, implorando a misericórdia divina, acorreu ao Senhor Espírito Santo, pedindo aos fidalgos que emprestassem as suas Coroas para as colocarem em cima de estrados forrados das melhores colchas.
Em Ponta Delgada, pelo fim da peste, iniciou-se também uma sumptuosa Festa, à qual concorriam as pessoas mais nobres da cidade – por isso ficou a chamar-se a Festa do Império dos Nobres. Logo na Segunda-feira da Pascoela, precedida de uma ruidosa e alegre folia na véspera para afugentar "as malignas enfermidades", era celebrada Missa cantada ao Divino Espírito Santo, na Capela de São Roque da Igreja Matriz, imagem que está associada a esta Festa. Foi nessa primeira Festa, a 9 de Abril de 1673 que, surpreendendo todos os que ali estavam, apareceu uma singela pomba branca que a todos as cerimónias pacientemente assistiu, desaparecendo com terna expressão de contentamento logo depois de terminado o Ofício, ficando essa micaelense expressão de “Festa da Pombinha”.

3 comentários:

JBS disse...

É preciso estar atento a tudo... Na meia tarde de Sábado, o mordomo irá obsequiar as crianças da rua do Frias e as do Patronato com um bodo de leite na Canada, mais precisamente, na serventia do jardim da única casa que honra essa desditosa vereda.

Anónimo disse...

...Facto curioso da altura era o de haver pessoas que tinham tanto gosto em serem donos de uma “dominga” (os tais oito dias que O Divino Espírito Santo permanecia em casa) que por terem uma casa com poucas divisões chegavam a pôr os poucos móveis que tinham no seu melhor ou até único quarto que tinham todos a um canto, dividindo-o depois com uma parede improvisada na maioria das vezes conseguida utilizando lençóis brancos, mas que depois de ornamentada com o chamado funcho da madeira e outros artefactos conseguia-se um disfarce singelo mas castiço bem à circunstância dos parcos recursos e a muita imaginação, fruto duma época de poucos haveres mas de muita entreajuda!
Essa casa mantinha-se aberta ao público durante toda a semana para que vizinhos e demais pessoas pudessem visitar o Senhor Espírito Santo, dirigir-Lhe a suas preces, desfrutar da beleza da ornamentação do quarto e do aroma inconfundível da mistura de flores “caseiras”: goivos, focinhos de coelho, malmequeres, ervilhas de cheiro, rosas de “cachinho”, eduardas, cravos brancos e vermelhos, tremoços de cheiro, rosas de São João, açucenas, amores-perfeitos, frísias, jarros brancos, narcisos e outras, todas elas vindas dos quintais dos donos da casa e dos vizinhos.
Eram flores puras, naturalmente tratadas e desenvolvidas e, por tal, com todas as suas capacidades aromáticas, bem mais genuínas do que as produzidas com fins comerciais já intervencionadas por meio da aplicação de técnicas de “cosmética” e artificialismos que lhes roubam principalmente o elemento tão procurado numa flor, o seu perfume!
Fazendo parte de toda esta panóplia de cheiros e cores nunca podia faltar a pequena taça de “magnólias” ou de “carouchas” em cima da banca redonda coberta com uma toalha de renda, onde se erguia a majestosa coroa bem como o trepidar de uma ténua luz vinda do um copo com azeite a arder em completa veneração ao símbolo sagrado.
Havia ainda o piedoso hábito de, como nota a sinalizar a permanência do Divino Hospede naquela casa, ter a bandeira encostada por detrás dos vidros da janela do respectivo quarto, sendo que todos as pessoas que por lá passavam a reverenciavam tirando-lhe o chapéu e até mesmo balbuciando uma ligeira prece.
Outros tempos de grande respeito pelas tradições e de maior interioridade!
...extraído do livro - HISTÓRIAS DE UMA VIDA OU UMA VIDA COM HISTÓRIA

Casa Botelho de Gusmão disse...

Agradecendo a nosso João Bento a precisosa informação para as crianças e o belíssimo contributo com que alguém honrou este modesto jornal...dando-lhe o perfume das vivências dos nossos.