Na sua linguagem ancestral, uma das mais belas cadências dos sinos é o seu toque de dobre, o qual, em terra lusitana, do alto das torres das catedrais ou do cimo dos campanários de recônditas aldeias, é o toque de Finados: o choro dos sinos por aqueles que partiram desta vida.
É extraordinário como, do mesmo instrumento e do conjunto dos mesmos timbres e tons, tanto se enche o som da mais profunda tristeza, como, em dia de repique, se anuncia alegria, vida e Ressurreição. Apenas pela diferença de ritmo ou, talvez mais importante, pela diferente simbologia com que cada toque envolve o nosso espírito, que os tem imbuídos na nossa própria identidade.
Assim é por estes dias... Após festejarmos os Santos com indubitável alegria, lembramos os nossos que partiram, que nos transmitiram o que somos e O que cremos, pedindo por eles e para que possam estar em situação próxima dos festejados.
Há quem fuja de tristezas. Mas, quase por azar, vão-lhes, mesmo assim, bater à porta.
Há quem encare a vida com alegria. Destes, são as tristezas que, naturalmente, lhes fogem, porque em tudo o que lhes chega conseguem descobrir ponta de alegria e de esperança.
Ora, para quem se enquadra nestes últimos, quão grande é a beleza desse encontro entre os que estão e os que partiram: cadenciado pela gravidade dos sinos que choram sem silêncio; decorado pelo pesado preto que não precisa de cor para se impor aos olhos cansados de banalidades; interiorizado no íntimo das almas que conseguem admitir em si a pequenez humana com que duvidam do Divino; amarrado a notas largas que timbram vozes suplicantes em ardente Requiem: Libera me Domine de morte aeterna... De uma alegria melancólica. É certo. Daquela alegria que quase perfura a alma, que derrama saudade, mas que assenta na Fé.
Outros preferem esconder-se da realidade da Vida. E, quanto mais se escondem, menos descobrem a Alegria...
E há espaço e tempo para tudo.
Tempo até para as importações de costumes ingleses, que por terem origem medieval e fazerem o contentamento da criançada, vieram para ficar e mal também não trazem.
Tempo para a glorificação dos Santos, tão esquecidos pela religiosidade contemporânea, numa busca quase fanática pelo “essencial”, conceito cada vez mais próximo do vazio absoluto!
Tempo para a visita aos restos mortais daqueles que fazem parte dessa secular cadeia dos que nos passaram o sopro da vida, ou aos de parentes e amigos, aos de gente por quem um dia choramos…
Assim também o fazemos em dia de Todos os Santos. Ao amanhecer, Ponta Garça. Próximo da Solene Missa do Meio-Dia, Vila Franca, com os sentidos acordes da Banda Lealdade que ali pisa em homenagem aquele chão sagrado. No regresso, já em dia de finados, Ponta Delgada. Em todos são deixadas à terra da sepultura as singelas flores nascidas na terra da mesma casa que a muitos deles – avós e tios - deu habitação nessa outra vida que um dia findou… Esperando que também assim, em pétalas de saudade, possamos merecer recordação e oração dos que ficam, quando chegar a hora de mudarmos de terra e nos reencontramos nessa Terra Eterna a que chamamos Céu.
É extraordinário como, do mesmo instrumento e do conjunto dos mesmos timbres e tons, tanto se enche o som da mais profunda tristeza, como, em dia de repique, se anuncia alegria, vida e Ressurreição. Apenas pela diferença de ritmo ou, talvez mais importante, pela diferente simbologia com que cada toque envolve o nosso espírito, que os tem imbuídos na nossa própria identidade.
Assim é por estes dias... Após festejarmos os Santos com indubitável alegria, lembramos os nossos que partiram, que nos transmitiram o que somos e O que cremos, pedindo por eles e para que possam estar em situação próxima dos festejados.
Há quem fuja de tristezas. Mas, quase por azar, vão-lhes, mesmo assim, bater à porta.
Há quem encare a vida com alegria. Destes, são as tristezas que, naturalmente, lhes fogem, porque em tudo o que lhes chega conseguem descobrir ponta de alegria e de esperança.
Ora, para quem se enquadra nestes últimos, quão grande é a beleza desse encontro entre os que estão e os que partiram: cadenciado pela gravidade dos sinos que choram sem silêncio; decorado pelo pesado preto que não precisa de cor para se impor aos olhos cansados de banalidades; interiorizado no íntimo das almas que conseguem admitir em si a pequenez humana com que duvidam do Divino; amarrado a notas largas que timbram vozes suplicantes em ardente Requiem: Libera me Domine de morte aeterna... De uma alegria melancólica. É certo. Daquela alegria que quase perfura a alma, que derrama saudade, mas que assenta na Fé.
Outros preferem esconder-se da realidade da Vida. E, quanto mais se escondem, menos descobrem a Alegria...
E há espaço e tempo para tudo.
Tempo até para as importações de costumes ingleses, que por terem origem medieval e fazerem o contentamento da criançada, vieram para ficar e mal também não trazem.
Tempo para a glorificação dos Santos, tão esquecidos pela religiosidade contemporânea, numa busca quase fanática pelo “essencial”, conceito cada vez mais próximo do vazio absoluto!
Tempo para a visita aos restos mortais daqueles que fazem parte dessa secular cadeia dos que nos passaram o sopro da vida, ou aos de parentes e amigos, aos de gente por quem um dia choramos…
Assim também o fazemos em dia de Todos os Santos. Ao amanhecer, Ponta Garça. Próximo da Solene Missa do Meio-Dia, Vila Franca, com os sentidos acordes da Banda Lealdade que ali pisa em homenagem aquele chão sagrado. No regresso, já em dia de finados, Ponta Delgada. Em todos são deixadas à terra da sepultura as singelas flores nascidas na terra da mesma casa que a muitos deles – avós e tios - deu habitação nessa outra vida que um dia findou… Esperando que também assim, em pétalas de saudade, possamos merecer recordação e oração dos que ficam, quando chegar a hora de mudarmos de terra e nos reencontramos nessa Terra Eterna a que chamamos Céu.
2 comentários:
É por culpa dessa miragem do "essncial" que chegámos ao beco do nosso infortúnio - "o Inverno do nosso descontentamento" de Steinbeck.
Alegremo-nos com a vitória da morte sobre os farrapos de um pensar decadente. "De cda vez que vem uma revolução é sinal que o homem vai alcançar mais uma liberdade, mais um direito, mais uma felicidade", assim proclamou o genial Eça de Quewirós. Deixem dobrar os sinos por todos os que legaram o Bem e o Mal, porque foi deles, dessa sua herança, que hoje somos essa gente do Coro Alto
Nosso João Bento sempre em grande forma...
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