segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Ao Seminário Colégio


Primeiro Sábado de Outubro de cada ano. Nessa mesma data daquele marcante dia da nossa infância em que, com tão tenra idade aos olhos de hoje, deixamos a casa paterna, entrando no Seminário. Que dia!

Pois é nesta data o grande dia anual dos antigos alunos do Seminário Colégio do Santo Cristo. Missa às 19.00 por alma dos antigos professores e alunos já falecidos e Jantar no São Miguel Park Hotel, sempre saudoso edifício do Seminário.

Mesmo sem nunca terem as paredes sido belas, a alma enchia-lhe o vazio das construções de betão. Edifício feito de azáfama e de corrupio, numa constante marcha diária de escadas e corredores; feito do saber que enchia de eco os cantos das salas de aula; repleto do silêncio possível das salas de estudo; ensolarado por uma inigualável vida cultural, dada assim de perto àquelas crianças, criadas entre academias, saraus, coros e teatros; repousado no merecido descanso de enormes camaratas; alicerçado naquela aromática Capela onde sempre se voltava; salpicado de refeições sem demoras que os Jardins eram logo ali...

É dia de reviver essa Infância. Ali. No mesmo espaço. Alterado - não importa. O que de belo teve não era de argamassa. Ali. Com os colegas. Mais envelhecidos - tanto mais rica é a memória. E com os professores que na sua maioria já cumpriram a sua missão neste mundo.

Mas tempos houve em que ainda não era assim. Tudo estava ali. Dias seguidos. Nós. Semanas. Os colegas. Meses. A Casa. Trimestres. Os Professores. Anos a fio. O Seminário.

E pois que a memória não é passado. É vida. Pertence-lhe. Pois que só os vivos a podem ter com esta força. É uma herança que nos foi entregue para o futuro. No que somos. No que fazemos. No que legamos aos que nos rodeiam ou mais amamos!

É por isso um dia de enorme alegria...

E em cada Outubro passa mais um aniversário sobre aquele outro de 1966. Festivamente vivido nesta cidade de Ponta Delgada. Inaugurava-se a novidade do ano nesta Ilha: o novo edifício do Seminário Colégio do Santo Cristo. Uma data cheia de simbolismo para as várias gerações de alunos que, ao longo dos seus cerca de 30 anos de existência, nele tiveram formação espiritual, escolar e humana.
Como os tempos mudam. Nos anos 30, o novo espaço para onde havia sido transferido o Seminário Episcopal de Angra, aberto em 1862, no velho Convento de São Francisco, tornara-se pequeno para o grande número de candidatos ao sacerdócio, tendo sido equacionada a construção de um novo edifício em Santa Catarina, ao Pico da Urze!
Nova solução, porém, surgiu quando chegava, a esta Diocese, Dom Manuel Afonso de Carvalho: a construção de um Seminário Menor, em Ponta Delgada, que simultaneamente servisse de Colégio para alunos internos e externos.
Permaneceu assim o Seminário Maior no coração da cidade de Angra, criando-se um novo pólo que, além da sua componente vocacional, razão primeira da sua existência, foi uma referência educativa nestas Ilhas.
Transitoriamente instalado no antigo Convento dos Jesuítas, em Novembro de 1956, é o novo Seminário Colégio inaugurado a 12 de Outubro de 1966. Equipado com um corpo docente cuidadosamente preparado, ofereceu um ensino de grande qualidade a muitas centenas de jovens, como Colégio na primeira década, e depois só como Seminário Menor.
E aí está a Casa novamente cheia dos seus, mais ou menos que sejam, venham de propósito do continente, desta ou doutras ilhas. Está cheia porque são amizades de sempre. Está cheia porque se repleta de gratidão. À Divina Instituição e aos Mestres. Tão grandes Mestres. O carismático Reitor, Mons. Jacinto de Almeida, e o seu sucessor, mestre na Música, Pe. Laudalino Frazão. O bem recordado Prefeito, Pe. António Varão. O formador de homens, marcante nos últimos anos em que assumiu essa missão, o Pe. José Maria Almeida, um homem santo. O Mons. Weber Machado, um génio da matemática. O Mons. Agostinho Tavares, conselheiro dos alunos. O Pe. Agnelo, homem de ciência e saber próprio. O Dr. Hermínio Pontes, mestre sem par da língua pátria. O castiço cura de aldeia, Pe. Gilberto Lima, pintor e artista. O Pe. José Francisco, sempre bem-disposto, acudindo aos serviços da Casa...
Gente boa. De coração grande, que se dedicava àquelas gerações como um pai indica aos filhos o caminho em frente na cruzada do mundo. Deste e do Outro...
A Instituição já não existe, o edifício já tem outro fim, mas, mesmo assim, obriga a gratidão que a sua memória perdure viva, aos menos enquanto perdurarem os frutos da sua obra.

5 comentários:

TLopes disse...

Excelente Escrito de Memória e de Presente!
Parabéns.

Anónimo disse...

A gratidão é um sentimento que se respiga na nobreza de coração e que leva o Homenm a "ajoelhar-se", sem que por isso fique mais pequeno...
Paz e glória aos bons mestres que já partiram e força e coragem para aqueles que ainda trilham o caminha da existência terrena.

JBS disse...

Não fosse a memória um cadinho...
Orgulhei-me nesse tempo de assistir à modernidade de uma esucação virada para fora, dando mostras de qur fervia um espírito novo de saberes.
E não fui aluno...

JBS disse...

Ai a minha vista curta...
Corrigindo:
"de uma educação virada para fora"

JBS disse...

Hoje, beirando o feriado que aí vem, estou mesmo do avesso. E pior, sem pouco que possa intervir - tal miséria.
É que se tivessem os senhores da igreja vistas largas, poderiam ter-se antecipado ao Colégio do Castanheiro, prosseguindo com a educação para fora de portas. E o resultado foi, tão-só, adeus Colégio e, desgraça quase igual, dinheiro bem te vi bandear para...