Entre os acordes triunfantes do Hino da Restauração, executado pela Banda da Marinha, e habitualmente com o ritmo compassado do pequeno chuvisco que é próprio das tardes de Dezembro, na Praça dos Restauradores, na velha metrópole, promovidas pela Sociedade Histórica Independência de Portugal, com a presença de todos os ramos das forças militares da Nação, decorrem as comemorações oficiais da Independência de Portugal, lembrando às gerações de hoje a nossa História e o nosso Património. De conturbados tempos em que a Nação vivia da coragem e da honra dos valentes que a defendiam.
Ao Meio-Dia é celebrada Missa evocativa, na Igreja de São Domingos de Gusmão. Na véspera, dia 30 de Novembro, no emblemático Convento do Beato, cerca de mil pessoas, ao Jantar, lembram o acto heróico dos Conjurados de 1640, com a presença de Suas Altezas Reais, os Duques de Bragança, numa organização da Causa Real.
Na falta de se celebrar o 5 de Outubro como símbolo dos oitocentos anos de Portugal, desde o Tratado de Zamora, em 5 de Outubro de 1143, ao menos lembramos esta segunda oportunidade, o 1 de Dezembro de 1640 - a Independência Nacional. Belíssima data para o País reflectir sobre o regime político que foi “democraticamente” escolhido pela suave força das armas.
Claro que ainda há quem pense que é de lesa Pátria alinhavar argumentos em favor do trono, como se a Europa evoluída não fosse constitucionalmente monárquica. Não é preciso percorrer todo o norte da Europa, basta atravessar a fronteira para perceber que a velha igualdade estatutária dos reinos ibéricos há muito que libertou esta lusa província económica. Embora, financeiramente, a casa civil deste pequeno País gaste mais metade, sem pompa, do que, com circunstância, a casa real espanhola.
Hoje todos condenamos que, em vez de nascer de razões, a república tenha assente a sua origem no sangue culto e genuinamente português de D. Carlos e do seu jovem filho, sob o olhar impotente da destroçada mãe e Rainha Dona Amélia.
Hoje já aprendemos nos bancos da escola que, afinal, quando veio a República, há muito que o País era um estado de direito democrático.
A causa real é a afirmação da nossa identidade. O que é seguramente muito. Um Rei representa não só o Estado democrático mas também a Nação, de cujos interesses permanentes é o guardião.
A monarquia não se impõe por revoluções, impõe-se pelas suas razões. Neste caso, porque a causa é a inversa, nem é preciso sangue, nem golpes, nem derrubes. Pacificamente, trata-se de dar um Rei à república.
Celebrar a Restauração é assim afirmar a nossa identidade enquanto Nação livre e soberana há mais de oito séculos. Revelar oitocentos anos de cristianismo, de uma Pátria cuja Rainha, a Senhora da Conceição, permanece no trono afectivo de cada português, na genuína devoção à Virgem Santíssima. Felizmente, e apesar de tudo, a lusa coroa permanece simbolicamente na Rainha dos Céus, coroada Rainha de Portugal por D. João IV. Por isso, onde está a Senhora está Portugal.
O nosso grande desafio, enquanto Nação, é o da identidade, enquanto representação e vivência de valores. As Monarquias são um factor dinamizador e incentivador das vontades nacionais. É por isso que, na Europa, nas Monarquias estão os países com níveis culturais e económicos mais elevados.
Comemorando a Nação, relembramos a nossa tripla pertença, enquanto Europeus, Atlânticos e Lusófonos, nesse verdadeiro triângulo estratégico, por vezes esquecido. Evidenciando a nossa natural pertença ao velho continente não deve ser confundido com a investida federal bafejada pela indiferença dos cidadãos, aos quais nada dizem os símbolos ou os pomposos discursos acerca da União Europeia, normalmente baseados em pretensiosismo que, envergando falsas posturas de Estado, mais não fazem do que camuflar a nossa constante e gradual marginalização na tomada de decisões.
Lembrar o Portugal de hoje é também lembrar o fim de uma fase de falso progresso económico, com anos de despropositado júbilo que devia ter sido comedido e refreado pelo custo que a aparência de modernidade implicou no respeito por essas outras riquezas que são o nosso património natural, cultural e arquitectónico.
O republicanismo militante assenta numa espécie de nova religião fanática feita de dogmas intolerantes à discussão, como esse pretensiosismo contemporâneo que decorre de um falso conceito de igualdade.
A igualdade dos homens e de cada homem perante Deus é um princípio de vida que a todos deve nortear na relação com o seu semelhante e no respeito pelo outro. É a grande novidade d’Aquele cujo nascimento dentro em pouco celebramos. É um projecto tão exigente que, ao longo dos séculos, poucos têm sido os que, de entre nós, têm conseguido responder, na sua vida, a esse desafio.
Há, porém, uma outra igualdade – nascida das novas ideias que substituíram Deus pelo próprio homem - a qual deixou de ser uma proposta de vida para servir de bandeira política. Em seu nome, revoluções e guerras acompanham a humanidade de há dois séculos a esta parte, sempre com o mesmo desfecho: os revolucionários que a proclamam, em nome do povo, acabam por tomar o lugar daqueles cujas rendas e poltronas há muito invejavam.
Foi assim logo na Revolução Francesa: a igualdade foi a grande bandeira revolucionária que transformou Napoleão no Imperador. Melhor igualdade é difícil de atingir.
Foi assim durante o século XX, nas conhecidas sociedades igualitárias de Além Berlim, em que, tal como o louco que dirigiu o país em cuja cidade cravaram o muro do mundo, a maior herança que legaram do respeito pela igualdade e dignidade da condição humana são os biliões de ossos de cujos milhões de corpos a vida foi criminosamente arrancada.
Tem sido sempre assim.
Diz-se que na República somos todos iguais. Balelas que enchem as cabeças que não tiveram a sorte ou o engenho de se instruírem e cultivarem por si próprias.
Basta lembrar os excessivos protocolos e as desnecessárias mordomias que convivem de forma ousada com esse princípio político laicamente sagrado que fundamenta esta terceira República: a igualdade.
Então e os excessivos protocolos e as desnecessárias mordomias?
Argumenta-se com a dignidade da função, ou melhor, o grande chavão que esmaga, de uma só vez, a inveja popular – o sentido de Estado. Então um cidadão que esteve em Belém, a reinar sem coroa, não há-de ter, pago pelos cofres públicos, até ao fim dos seus dias, reforma superior ao que recebem umas 20 ou 30 velhotas do povo? Sendo que, neste caso e pelo mesmo prazo, também não dá para as 30 simpáticas velhinhas se juntarem e terem direito a um belo carro com chofer. Também não cabiam. Além disso são do povo. Não como o distinto senhor que já o foi mas hoje faz parte da elite política que fundamenta a sua ascensão social nesse princípio laicamente sagrado: a igualdade.
Na primeira República nenhum Governo chegou a estar tempo suficiente para pensar nisso. Na segunda o tempo era outro e alguém deu-se ao trabalho de pensar que isso não era conveniente. Chegados à terceira República, ninguém disso se lembrou enquanto as golas altas e o Zeca Afonso, o mais eloquente expoente da cultura nacional, foram a moda protocolar.
Depois, claro, é o que se sabe.
Ao Meio-Dia é celebrada Missa evocativa, na Igreja de São Domingos de Gusmão. Na véspera, dia 30 de Novembro, no emblemático Convento do Beato, cerca de mil pessoas, ao Jantar, lembram o acto heróico dos Conjurados de 1640, com a presença de Suas Altezas Reais, os Duques de Bragança, numa organização da Causa Real.
Na falta de se celebrar o 5 de Outubro como símbolo dos oitocentos anos de Portugal, desde o Tratado de Zamora, em 5 de Outubro de 1143, ao menos lembramos esta segunda oportunidade, o 1 de Dezembro de 1640 - a Independência Nacional. Belíssima data para o País reflectir sobre o regime político que foi “democraticamente” escolhido pela suave força das armas.
Claro que ainda há quem pense que é de lesa Pátria alinhavar argumentos em favor do trono, como se a Europa evoluída não fosse constitucionalmente monárquica. Não é preciso percorrer todo o norte da Europa, basta atravessar a fronteira para perceber que a velha igualdade estatutária dos reinos ibéricos há muito que libertou esta lusa província económica. Embora, financeiramente, a casa civil deste pequeno País gaste mais metade, sem pompa, do que, com circunstância, a casa real espanhola.
Hoje todos condenamos que, em vez de nascer de razões, a república tenha assente a sua origem no sangue culto e genuinamente português de D. Carlos e do seu jovem filho, sob o olhar impotente da destroçada mãe e Rainha Dona Amélia.
Hoje já aprendemos nos bancos da escola que, afinal, quando veio a República, há muito que o País era um estado de direito democrático.
A causa real é a afirmação da nossa identidade. O que é seguramente muito. Um Rei representa não só o Estado democrático mas também a Nação, de cujos interesses permanentes é o guardião.
A monarquia não se impõe por revoluções, impõe-se pelas suas razões. Neste caso, porque a causa é a inversa, nem é preciso sangue, nem golpes, nem derrubes. Pacificamente, trata-se de dar um Rei à república.
Celebrar a Restauração é assim afirmar a nossa identidade enquanto Nação livre e soberana há mais de oito séculos. Revelar oitocentos anos de cristianismo, de uma Pátria cuja Rainha, a Senhora da Conceição, permanece no trono afectivo de cada português, na genuína devoção à Virgem Santíssima. Felizmente, e apesar de tudo, a lusa coroa permanece simbolicamente na Rainha dos Céus, coroada Rainha de Portugal por D. João IV. Por isso, onde está a Senhora está Portugal.
O nosso grande desafio, enquanto Nação, é o da identidade, enquanto representação e vivência de valores. As Monarquias são um factor dinamizador e incentivador das vontades nacionais. É por isso que, na Europa, nas Monarquias estão os países com níveis culturais e económicos mais elevados.
Comemorando a Nação, relembramos a nossa tripla pertença, enquanto Europeus, Atlânticos e Lusófonos, nesse verdadeiro triângulo estratégico, por vezes esquecido. Evidenciando a nossa natural pertença ao velho continente não deve ser confundido com a investida federal bafejada pela indiferença dos cidadãos, aos quais nada dizem os símbolos ou os pomposos discursos acerca da União Europeia, normalmente baseados em pretensiosismo que, envergando falsas posturas de Estado, mais não fazem do que camuflar a nossa constante e gradual marginalização na tomada de decisões.
Lembrar o Portugal de hoje é também lembrar o fim de uma fase de falso progresso económico, com anos de despropositado júbilo que devia ter sido comedido e refreado pelo custo que a aparência de modernidade implicou no respeito por essas outras riquezas que são o nosso património natural, cultural e arquitectónico.
O republicanismo militante assenta numa espécie de nova religião fanática feita de dogmas intolerantes à discussão, como esse pretensiosismo contemporâneo que decorre de um falso conceito de igualdade.
A igualdade dos homens e de cada homem perante Deus é um princípio de vida que a todos deve nortear na relação com o seu semelhante e no respeito pelo outro. É a grande novidade d’Aquele cujo nascimento dentro em pouco celebramos. É um projecto tão exigente que, ao longo dos séculos, poucos têm sido os que, de entre nós, têm conseguido responder, na sua vida, a esse desafio.
Há, porém, uma outra igualdade – nascida das novas ideias que substituíram Deus pelo próprio homem - a qual deixou de ser uma proposta de vida para servir de bandeira política. Em seu nome, revoluções e guerras acompanham a humanidade de há dois séculos a esta parte, sempre com o mesmo desfecho: os revolucionários que a proclamam, em nome do povo, acabam por tomar o lugar daqueles cujas rendas e poltronas há muito invejavam.
Foi assim logo na Revolução Francesa: a igualdade foi a grande bandeira revolucionária que transformou Napoleão no Imperador. Melhor igualdade é difícil de atingir.
Foi assim durante o século XX, nas conhecidas sociedades igualitárias de Além Berlim, em que, tal como o louco que dirigiu o país em cuja cidade cravaram o muro do mundo, a maior herança que legaram do respeito pela igualdade e dignidade da condição humana são os biliões de ossos de cujos milhões de corpos a vida foi criminosamente arrancada.
Tem sido sempre assim.
Diz-se que na República somos todos iguais. Balelas que enchem as cabeças que não tiveram a sorte ou o engenho de se instruírem e cultivarem por si próprias.
Basta lembrar os excessivos protocolos e as desnecessárias mordomias que convivem de forma ousada com esse princípio político laicamente sagrado que fundamenta esta terceira República: a igualdade.
Então e os excessivos protocolos e as desnecessárias mordomias?
Argumenta-se com a dignidade da função, ou melhor, o grande chavão que esmaga, de uma só vez, a inveja popular – o sentido de Estado. Então um cidadão que esteve em Belém, a reinar sem coroa, não há-de ter, pago pelos cofres públicos, até ao fim dos seus dias, reforma superior ao que recebem umas 20 ou 30 velhotas do povo? Sendo que, neste caso e pelo mesmo prazo, também não dá para as 30 simpáticas velhinhas se juntarem e terem direito a um belo carro com chofer. Também não cabiam. Além disso são do povo. Não como o distinto senhor que já o foi mas hoje faz parte da elite política que fundamenta a sua ascensão social nesse princípio laicamente sagrado: a igualdade.
Na primeira República nenhum Governo chegou a estar tempo suficiente para pensar nisso. Na segunda o tempo era outro e alguém deu-se ao trabalho de pensar que isso não era conveniente. Chegados à terceira República, ninguém disso se lembrou enquanto as golas altas e o Zeca Afonso, o mais eloquente expoente da cultura nacional, foram a moda protocolar.
Depois, claro, é o que se sabe.
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