Aos jovens pais, Frederico e Andrea, aos bonitos irmãos, Tomás e Júlia, e aos babados avós João e Eugénia e João e Esperança, muitos parabéns.
Ao recém chegado, uma vida feliz.
Que honre os seus antepassados e fique na memória para os vindouros!
Assim o deseja um trineto do primeiro João Bento Sampaio pontagarcense.
5 comentários:
Nos ergo debemus sublevare huiusmodi, ut cooperatores simus veritatis
Isso de ser comentador único tem as suas compensações...
tagoffÁgua vai, água vem. E veio mais um João, este da estirpe Bento Sampaio. Ganhámos todos: os pais,irmõas e avós,todos os seus de sangue, os amigos que já são muitos, a rua, a cidade e a Ponta Garça.
Viagens no Tempo
Cidadãos do Céu
Bebeu o cálice do Senhor e tornou-se amigo de Deus
Perguntem-me quem era o menino que subia para cima de uma cadeira e, já possuído da miraculosa e amorável semente, anunciava a quantos os que em dia de matança sarilhavam lá por casa, “escutem todos que eu vou dizer um sermão!...”. O catraio, um franzino de olhar doce mas arguto, ainda não satisfeito, mais alto queria parecer e trepava para cima da amassaria, “oiçam todos, isto é um sermão!...”, e punha-se a deslindar a palavra de Deus que cedo recebera dos seus.
Ah, pois é, quem era o menino, pois... era tão-somente o José.
Esse menino – uma graça dos céus que depressa viu desmoronar-se-lhe o cunhal da casa e logo a primeira empena cedeu e ruiu – olhou a parede mestra que sobrava e fez-se gente de palmo e meio.
Como lhe prometera a boa semente, cresceu, e sempre dando nas vistas deixou os nevoeiros da sua terra, desceu à cidade, logo ali, ficando-se naquele seu jeito de José, a aclarar os horizontes do saber.
Assombrado com o conhecimento das coisas – teoremas e poemas magníficos, faiscava-lhe a palavra dos clássicos – ao José faltava alargar o leque das suas amizades para lá dos que com ele andavam na Casa de Antero – e que amizades?...
E o tempo mais que corria, voava para um rapaz que ainda almejava mais do que aquilo que a eloquência dos compêndios lhe iluminava.
Um dia – e todos temos que trilhar os atalhos do porvir – o José riscou, não lhe ocorria o mais ligeiro senão, “minha mãe, o que eu mais gostava...”, quedou-se a ver se a mãe lhe adivinhava o intento, “... era ir para o seminário”, e os dois num consolo de felicidade, “querido filho...”.
Era já ponto assente que naquele rapaz caíra a tal semente prodigiosa que ninguém duvidava, mas os da terra – enredados com querelas de extremas e demandas por uma qualquer rixa que crescera por uns copos escusados –, concordaram com o velho regedor, “oh, o José dava um grande advogado...”, e ala mais um copo. Outros, maravilhados com o filho da vizinha, “e também um doutor de gente...”. e que mal havia nisso – advogado ou doutor de gente?
Nenhum.
Estava na hora do filho prodígio mostrar à terra o seu destino. Viram-no num adeus caloroso acenar aos que lhe auguraram uma carreira superior, e o José rumou a Angra.
Depressa correu o tempo atrás do tempo numa estonteante aventura que faltava ao José para beber o cálice do Senhor e tornar-se um dos grandes amigos de Deus.
E esse foi o grande Amigo de todos, da caminhada de esperança que imprimiu à cidade, passeando-se de bondade, “vem cantar para o nosso coro”, e a resposta, “eu, senhor padre...”. A amenidade do seu carácter transbordava de amor, “cantas num coro de elite...”, e o seu olhar doce, com aqueles reparos brandos, “o coro da nossa igreja não dá viagens... vem para a gente”. Alguns escutaram-lhe a doçura da voz e tornaram-se amigos do coro e sobremaneira do nosso querido padre José Ribeiro, ah, o monsenhor...
Essa propensão para pastor das coisas de Deus foi o que todos viram no tal menino que aproveitava o ajuntamento em dia de matança, “escutem, vou dizer um sermão!...”. E ele, o José, despido de honrarias, foi o que se viu – um dos maiores oradores sacros do seu tempo.
Não corria pela fama dos púlpitos, não.
Se ficou pelas sacras tribunas alguma erudição, para logo se esquecer o vigor do verbo, alguém, certamente à socapa, gravou-lhe um sermão – o do Senhor Santo Cristo. Esse alguém, à saída da missa do meio-dia da minha Ponta Garça, era um parente meu – o João alfaiate – girando na sua casa de pasto entre uns ricos petiscos da sua Ermelinda e uns copos da sua vinha, ali à Mendonça, “agora, não quero aqui barulho”, e lá rodava uma vez mais e todos os domingos à mesma hora, a cassete com o sermão da segunda-feira do Senhor.
Mesmo em frente lhe ficava a cocheira do senhor Josezinho Caetano, e deliciavam-se com a retórica tamanha do padre José os que acabavam de perder uma partida de sueca, “mais jogo menos jogo...”, puxavam de um cigarro relaxante, “isso dá um toque de chorar...”, e viam-se rolar lágrimas esquivas por tanta dor consentida pelo Altíssimo Amigo do padre José Ribeiro.
“Aguenta-te para o Rollo dos sacramentos...”, preveniu-me um amigo no meu Curso de Cristandade, , “porquê?’, e fiquei-me à espera, “ele estende-se...”. Realmente, o padre José Ribeiro ia passar das marcas...
Cidadãos do Céu vão sendo cada vez mais escassos na terra dos vivos e que deles bem mais se precisava – coisas minhas...
O tal menino, em cima da cadeira, trepou o mais que pôde e empoleirou-se na amassaria, excedeu-se, passou das marcas na mais rara e elevada eloquência – que pena, foram só cinco horas.
2008-12-31
Bento Sampaio
Muito bem-vindo, Bom Jovem Ancião dos Bento Sampaio.
Enviar um comentário