segunda-feira, 15 de novembro de 2010

V Aniversário do Restauro do Órgão de Vila Franca

O Órgão de tubos da Matriz de São Miguel Arcanjo foi construído por Manuel de Serpa da Silva, organeiro da Ilha do Faial, que havia aprendido este ofício na América, e que veio a construir diversos Órgãos, nomeadamente o da Matriz de Santa Cruz das Flores, em 1903; e os da Fazenda e da Matriz do Nordeste.
Foi aí colocado e inaugurado na Festa de São Miguel, a 14 de Maio de 1900. Há, porém, no livro de tombo, diversas referências que levam a concluir que sempre houve Órgão nesta Matriz. Assim resulta das visitas de 1674 e de 1798 e das diversas nomeações de organistas.
O coro alto actual, onde se encontra o Órgão, é de 1886, tendo vindo substituir o antigo coreto que existia entre a Capela-mor e a Capela do Rosário.
No livro do tombo encontra-se transcrita a acta da sessão extraordinária desse dia de festa, a 14 de Maio de 1900. Às 11.00 reuniu-se a Junta de Paróquia, a qual era composta pelo Presidente, Prior Jorge Furtado da Ponte, e pelos vogais: Pe. Jacinto Furtado de Couto, Jacinto Soares Botelho de Gusmão, Mariano Borges Soares, António José Raposo, Pe. Manuel Jacinto de Andrade Dias, José Maria de Sousa, António José Pacheco, e pelo Mestre de Capela de então, Urbano José Dias. Participaram ainda o Regedor, João Pereira de Mendonça, e todos os cavalheiros que auxiliaram na angariação de esmolas para a aquisição do Órgão. Foi aprovado um voto de louvor e agradecimento a todos os que contribuíram para a sua aquisição, tendo os seus nomes ficado registados. O total das despesas foi de 1.782$510 reis, estando já pagos 1.392$510 reis, ficando-se assim a dever ao construtor 380$000 reis. A sessão encerrou ao meio-dia, hora em que foi iniciada a solene festividade em honra do nosso Protector, momento no qual o Órgão tocou pela primeira vez.
Durante todo esse ano continuaram-se a recolher donativos, sendo interessante referir a subscrição feita entre os nossos emigrantes residentes na cidade do Pará. Já desde 1898 que, quer o Clero, quer os Músicos, dispensaram todas as gratificações que eram usuais à época pelas festas em favor do pagamento do Órgão. Foi assim com grande satisfação que, passado um ano, a Junta de Paróquia voltou a reunir-se na festa de São Miguel Arcanjo, dando por finda esta sua missão, uma vez que àquela data, 12 de Maio de 1901, encontrava-se tudo pago.
Os nossos antepassados, com grande esforço, do qual ainda hoje beneficiamos, mas com muito entusiasmo, adquiriram assim o imponente instrumento que, do coro alto da Matriz de São Miguel Arcanjo, volvido um século, voltou a soltar os seus acordes festivos a 5 de Novembro de 2005, readquirindo o esplendor que só os vilafranquenses do início do século XX haviam conhecido.
Nas últimas décadas, por diversas circunstâncias, estava o Órgão de Tubos quase votado ao abandono, interrompido de forma simbólica na festa de São Miguel, associando-o, com muito esforço, em cada seu aniversário, na homenagem ao Patrono da Ilha, que desta Igreja Mãe é venerado e celebrado de forma solene.
A recuperação do Órgão foi promovida pelo Mestre de Capela do Coro da Prioral Matriz do Archanjo São Miguel, com a autorização e cooperação da Comissão Fabriqueira, o apoio logístico da Câmara Municipal e o incentivo da Direcção Regional da Cultura, tendo o custo do restauro sido suportado, na íntegra, por essas duas instituições, e adiantado, a título de empréstimo, pelo Prof. Gabriel Cravinho.
O restauro foi entregue à Oficina e Escola de Organaria, com sede em Esmoriz, pelo Mestre-organeiro Eng. Pedro Guimarães, com a colaboração do Mestre-organeiro Harm Kirschner, vindo da Alemanha.
A Inauguração foi tocada pela distinta organista Dr.ª Ana Paula Andrade Constância, abrindo com o marcial Hino do Patrono da Ilha, seguida do Quis Ut Deus e de Solene Te Deum de Bordese, cantados pelo Coro da Prioral. Em jeito de concerto, foram tocadas várias peças, algumas com o precioso canto de Eulália Mendes. No final, cantou o Coro Litúrgico da Matriz de Ponta Delgada, encerrando, em conjunto com o Coro da Prioral, num total de noventa vozes, com uma Homenagem a Nossa Senhora da Paz, composta para a ocasião, e o Aleluia de Haendel.
Aquele Ano Pastoral, dedicado à dignificação do Domingo, dia do Senhor, relembrando aos cristãos a sua importância no encontro com Deus, enquanto dia de festa e de vida, teve na comunidade esse sinal de alegria na beleza que devolveu à Matriz os majestosos acordes desse centenário Órgão de Tubos, implicando mais participação no Coro, o seu regresso ao recato do coro alto da Igreja e maior qualidade no Canto, qualidades que, oferecidas na Liturgia, incentivam o íntimo encontro com Deus.

3 comentários:

Anónimo disse...

Da história do órgão, estamos agradecidos, mas merece um reparo:

"Na minha Ponta Garça ninguém concebia um coreto dentro da igreja - só na Vila..."

João Bento Sampaio

Casa Botelho de Gusmão disse...

Coreto vem de Coro, com o sufixo eto, significando pequeno coro.
O coro é a parte da Igreja onde está um estrado, uma parte alta, onde o clero faz a sua oração em comum, ou o local onde se toca ou canta. Vem do
grego “ khoros” e do latim “choru".
Claro que também há o sentido popular do termo, relativo aos posteriores coretos que se fizeram nas praças públicas.
O coreto concebeu-se só na Vila e em todas as matrizes, catedrais, patriarcais e basílicas da cristandade...

JBS disse...

Fiquei sabendo e agradecido estou a toda a família.
Era bom de rir se eu contasse a história na Ponta Garça. "É isso, menino Joãozinho, diria o Luís Cró, dá-se para baixo nesses senhores da Vila".